1. DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (APÓS 1964)
Dois eventos cruciais na década de 60 foram: (a) o Concílio Vaticano II (1962-65), que marcou a abertura aos protestantes (“irmãos separados”) e revelou novas concepções sobre o culto, a missão da igreja e a relação com a sociedade; (b) o Golpe de 1964 e o regime militar no Brasil.
1.1 Igreja Presbiteriana
Esse período marcou o fim do antigo relacionamento da IPB com as missões norte-americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho Interpresbiteriano. Em 1962, a Missão Brasil Central propôs-se a entregar à igreja brasileira toda a sua obra evangelística, educativa e médica. Em 1972 a igreja rompeu com a Missão Brasil Central, sendo uma das possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos EUA. Em 1973 a IPB rompeu relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e firmou novo convênio com a missão da Igreja do Sul.
Duas questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social. A igreja enviou representantes à assembleia do Conselho Mundial de Igreja em Amsterdã (1948) e observadores a outras assembleias. Missionários como Richard Shaull deram ênfase a questões sociais, influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio de 1962 realizou um importante pronunciamento social.
Houve uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em Fortaleza, com a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e 1974. As principais preocupações do período foram a ortodoxia, a evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os processos contra pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior flexibilidade doutrinária. Em setembro de 1978, na cidade de Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP).
1.2 Igreja Presbiteriana Independente
A IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que a IPB, mas a partir de 1972 tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à renovação carismática. Em 1978 admitiu aos seus presbitérios os três primeiros missionários da sua história, Richard Irwin, Albert James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em 1973, um segmento separou-se para formar a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, que depois se uniu a um grupo semelhante egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana Renovada.
1.3 Igreja Batista
No período em questão, os batistas foram caracterizados por forte ênfase evangelística, tendo realizado grandes campanhas. Billy Graham pregou no Maracanã durante o X Congresso da Aliança Batista Mundial (julho de 1960). O pastor João Filson Soren, da 1ª Igreja Batista do Rio, foi eleito presidente da Aliança Mundial. Em 1965 foi realizada a Campanha Nacional de Evangelização como uma resposta ao golpe de 1964. Seu lema foi “Cristo, a Única Esperança”, indicado que soluções meramente políticas eram insuficientes. Seu coordenador foi o pastor Rubens Lopes, da Igreja Batista de Vila Mariana, em São Paulo. Houve ainda a Campanha das Américas (1967-1970) e a Cruzada Billy Graham, no Rio de Janeiro, em 1974, tendo como presidente o pastor Nilson do Amaral Fanini. Houve também uma Campanha Nacional de Evangelização em 1978-1980.
1.4 Igreja Metodista
No início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do Nascimento, reitor da Faculdade de Teologia, liderou o “esquema” nacionalista que visava substituir os líderes missionários do Gabinete Geral por brasileiros (saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram Almir dos Santos e Omar Daibert, futuros bispos).
Os universitários e estudantes de teologia pleiteavam uma igreja mais voltada para a ação social e a política. A ênfase na justiça social dominou a Junta Geral de Ação Social (Robert Davis, Almir dos Santos) e a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara paraninfou a turma de 1967. No ano seguinte, uma greve levou ao fechamento da Faculdade e à sua reestruturação.
De 1968 em diante a igreja voltou-se para problemas internos como o regionalismo. Em 1971 cada um dos seis concílios regionais elegeu, pela primeira vez, o seu próprio bispo (os bispos sempre tinham sido eleitos no Concílio Geral, como superintendentes gerais da igreja) e surgiram vários seminários regionais. Essa tendência perdurou até 1978.
Nos anos 70 a IMB investiu na educação superior. No campus da antiga Faculdade de Teologia surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior e em 1975 o Instituto Piracicabano (fundado em 1881) foi transformado em Universidade Metodista de Piracicaba. Em 1982 foi elaborado o Plano Nacional de Educação Metodista, cuja fundamentação deu ênfase ao conceito do Reino de Deus e à teologia da libertação.
1.5 Igreja Luterana
Em 1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro, integraram-se em definitivo na IECLB, aceitando uma nova constituição. No VII Concílio Geral (outubro de 1970) foi aprovado unanimemente o “Manifesto de Curitiba,” contendo o posicionamento político-social da igreja. Esse manifesto foi entregue ao presidente Emílio Médici por três pastores. Em 1975 entrou em vigor a reforma do currículo da faculdade de teologia de São Leopoldo, refletindo as prioridades da igreja.
2. IGREJAS PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS
As três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro foram as seguintes: (a) décadas de 1910-1940: chegada simultânea da Congregação Cristã no Brasil e da Assembleia de Deus, que dominaram o campo pentecostal por 40 anos; (b) décadas de 1950-1960: fragmentação do pentecostalismo com o surgimento de novos grupos – Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é Amor e muitos outros (contexto paulista); (c) anos 70 e 80: advento do neopentecostalismo – Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e outras (contexto carioca).
(a) Congregação Cristã no Brasil: fundada pelo italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em Chicago, foi membro da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em 1910 (março-setembro) visitou o Brasil e iniciou as primeiras igrejas em Santo Antonio da Platina (PR) e São Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948. Em 1940, o movimento tinha 305 “casas de oração” e dez anos mais tarde 815.
(b) Assembleia de Deus: teve como fundadores os suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933). Batistas de origem, eles abraçaram o pentecostalismo em 1909. Conheceram-se numa conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi influenciado pelo pastor batista William H. Durham, que participou do avivamento de Los Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil, chegaram a Belém em novembro de 1910. Seus primeiros adeptos foram membros de uma igreja batista com a qual colaboraram.
(b) Igreja do Evangelho Quadrangular: fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson (1890-1944). O missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do Brasil em novembro de 1951, em São João da Boa Vista. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo Raymond Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos do ministério de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito Santo, cura e virá outra vez. As mulheres podem exercer o ministério pastoral.
(c) Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo: fundada por Manoel de Mello, um evangelista da Assembleia de Deus que depois tornou-se pastor da IEQ. Separou-se da Cruzada Nacional de Evangelização em 1956, organizando a campanha “O Brasil para Cristo”, da qual surgiu a igreja. Filiou-se ao CMI em 1969 (desligou-se em 1986). Em 1979 inaugurou seu grande templo em São Paulo, sendo orador oficial Philip Potter, secretário-geral do CMI. Esteve presente o cardeal arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo Arns. Manoel de Mello morreu em 1990.
(d) Igreja Deus é Amor: fundada por David Miranda (nascido em 1936), filho de um agricultor do Paraná. Vindo para São Paulo, converteu-se numa pequena igreja pentecostal e em 1962 fundou sua igreja em Vila Maria. Logo transferiu-se para o centro da cidade (Praça João Mendes). Em 1979, foi adquirida a “sede mundial” na Baixada do Glicério, o maior templo evangélico do Brasil, com capacidade para dez mil pessoas. Em 1991 a igreja afirmava ter 5.458 templos, 15.755 obreiros e 581 horas diárias em rádios, bem como estar presente em 17 países (principalmente Paraguai, Uruguai e Argentina).
(e) Igreja Universal do Reino de Deus: fundada por Edir Macedo (nascido em 1944), filho de um comerciante fluminense. Trabalhou por 16 anos na Loteria do Estado, período no qual subiu de contínuo para um posto administrativo. De origem católica, ingressou na Igreja de Nova Vida na adolescência. Deixou essa igreja para fundar a sua própria, inicialmente denominada Igreja da Bênção. Em 1977 deixou o emprego público para dedicar-se ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD e o primeiro programa de rádio. Macedo viveu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou ao Brasil, transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. Em 1990 a IURD elegeu três deputados federais. Macedo esteve preso por doze dias em 1992, sob a acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo.
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