Discurso feito por ocasião da morte do Presidente Lincoln e proferido pelo Rev. A. G. Simonton no culto especial realizado em 21 de maio de 1865. Publicado a pedido dos norte-americanos residentes no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, impresso por George Leuzinger, 1865.
Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam – Salmo 46.1-3.
Quando o coração é tocado por qualquer emoção poderosa, seja de alegria ou tristeza, suas reais simpatias e apegos são revelados. Todos os laços artificiais e amizades vazias são ignorados, e apenas os laços da natureza e da afinidade real são reconhecidos. É nesses momentos que um homem aprende a conhecer a si mesmo e a seus verdadeiros amigos. Se a alegria e a tristeza forem privadas e pessoais, elas desafogarão no seio daquele que está mais próximo de quem está sofrendo ou em regozijo. Nenhum insensível receberá a missão de compartilhá-la. Um coração poderosamente exercitado por emoções profundas é dotado de um instinto quase infalível em sua busca por simpatia sincera. O meio da linguagem é dificilmente necessário para estabelecer um intercâmbio de pensamentos e sentimentos, onde todos os corações são permeados por uma grande emoção ou interesse. Onde inexiste essa verdadeira comunidade de sentimentos, nenhuma habilidade linguística pode esconder o fato. Se o lamento ou a alegria forem de caráter nacional, será sentida a forte atração desse laço singular que une em nacionalidade milhões de indivíduos, de caráter e gostos diferentes.
Meus compatriotas, como me parece, esta é a verdadeira interpretação do nosso encontro de hoje. O sentimento ou instinto de nacionalidade é tocado em suas profundezas e nos reunimos para dar expressão a emoções comuns a todos nós. A seleção deste lugar e hora, e o pedido de que eu fale a vocês desta mesa, é um reconhecimento distinto da mão de Deus no que aconteceu conosco como nação, e uma expressão do nosso desejo de buscar nele tudo o que precisamos como indivíduos e como parte dessa nação. Isto em si é um presságio para o bem. Ninguém que forma qualquer concepção própria da importância atribuída aos eventos que agora estão ocorrendo nos Estados Unidos, e que tem observado como muitas vezes os maiores interesses dependem da intervenção de uma única vontade principal, pode deixar de ver a gravidade das notícias surpreendentes que nos chegaram, e reconhecer que nada pode ser mais adequado do que buscar o conforto e o fortalecimento de nós mesmos em Deus.
É um momento apropriado para ficarmos quietos em reconhecimento de que Deus governa. Ou, se nossas vozes se fizerem ouvidas, que seja em confissão de que Ele é o Senhor e que seus juízos, por mais misteriosos que sejam, são corretos; em agradecimento pela fidelidade e bondade que sempre acompanham Seus golpes mais dolorosos e em fervorosas súplicas por nosso amado país, ainda em perigo, talvez agora mais do que nunca, precisando da graciosa interposição do “Senhor dos Exércitos” e do “Deus de Jacó”. Ao fazer isso, acredito que tocaremos um acorde em perfeita sintonia com as mais puras e melhores expressões de apego nacional, e nos identificaremos mais completamente com aqueles interesses, que o próprio Deus está realmente considerando, em toda essa longa e temerosa luta.
Se diz sobre Martinho Lutero, que de todos os homens que já viveram teve a ocasião mais frequente de buscar força e consolo sobre-humanos, que sempre que chegavam notícias desfavoráveis à Reforma costumava dizer aos que estavam ao seu redor: “Vamos cantar o Salmo 46”. Aqui está o segredo de sua força e de toda a sua vida. Aqui sua alma encontrou ancoragem quando por muitos dias de tempestade e tormenta, nem sol, lua e nem estrelas apareceram. Aqui os grandes de todas as eras encontraram refúgio, força e ajuda em tempos de angústia. Se a sublime fé deste Salmo for nossa, também não temeremos, “ainda que a terra seja removida, e ainda que as montanhas sejam levadas para o meio do mar, ainda que suas águas rujam e se perturbem, ainda que as montanhas tremam com a sua elevação”.
Ninguém certamente hesitará em admitir que os tempos exigem tal confiança. A linguagem forte e figurativa com a qual o autor deste Salmo descreve os perigos que o ameaçam, bem como a Cidade de Deus, ou Jerusalém, a capital da Judeia, não é muito ousada para ser aplicada às circunstâncias atuais do nosso país. A revolução de agora em pleno andamento, quer seja superficialmente julgada pelo rugido e aumento das hostes em luta e milhões de espectadores animados e interessados, ou por um exame mais profundo dos traços permanentes que ela deixará em toda a face da sociedade, apropriadamente descrita pelo tremor de montanhas e pelo fato de terem sido removidas e lançadas no meio do mar, tem sobre si uma magnitude e importância que justifica tal aplicação. Temos alcançado uma crise em nossa história nacional, em que não apenas os homens cristãos, mas todos aqueles capazes de ver a disparidade entre a força do homem e as agitações do mar turbulento dos assuntos nacionais, devem saber e sentir — embora não se expressem assim — que a nossa única segurança adequada está na presença conosco do “Senhor dos Exércitos”, como nosso refúgio e força.
Não é meu hábito introduzir esse tipo de tópico no púlpito, nem dedicar qualquer parte do tempo consagrado à adoração a Deus para a discussão de medidas, mesmo que sejam de interesse nacional vital. Não tenho luzes para me guiar na formação de um julgamento sobre quais assuntos são mais provavelmente corretos do que o julgamento de qualquer outra pessoa igualmente bem-informada, e o púlpito não é lugar para a discussão de questões duvidosas, que não podem ser submetidas à autoridade da palavra escrita. No entanto, nesta ocasião seria apenas simulação não falar claramente de nossa tristeza e perda nacional. É o fardo de cada coração e viemos aqui para nos debruçar sobre Aquele que disse: “Lança teu fardo sobre o Senhor, e Ele te susterá”.
Poucos dias atrás, cada um de nós ficou surpreso e chocado com o boato de que o presidente Lincoln estava morto, tendo caído pelas mãos de um assassino. Era um rumor que qualquer um se recusava a acreditar. Nosso horror ao pensar em tal crime e a fuga instintiva das possíveis consequências para o país de uma remoção tão repentina daquele que por quatro anos agitados tem sido o líder do povo — aquele em quem eles confiaram quando a desconfiança atingiu quase todos os outros — apresentou à mente de todos tais formas de terror que tentamos desacreditar o horrível boato.
Mas não foi possível duvidar por muito tempo. Compreende-se além de qualquer dúvida razoável que na noite de 14 de abril — um dia dentre todos outros mais profundamente manchado pela conspiração secreta contra nossa a vida nacional — o presidente Lincoln recebeu um ferimento mortal de um assassino, de cujos efeitos acredita-se ter ele morrido no dia seguinte. É pelo menos certo que o ferimento recebido foi tal, que somente a interposição direta do Alto poderia impedir seu efeito mortal. Uma tentativa semelhante foi feita contra a vida do secretário Seward, que estava naquele momento confinado à cama por enfermidade. Embora gravemente ferido, espera-se que nenhum de seus ferimentos seja mortal, e que a nação seja poupada desta dupla perda. Esta é a notícia que está mexendo profundamente com cada coração americano e nos uniu hoje.
Qual é o seu significado? Quais são as lições que Deus nos daria por meio desta grande calamidade? Sabemos que nada acontece em vão no curso de Sua providência. Especialmente, temos a certeza de que um evento de tamanha importância nacional tem a intenção de nos disciplinar ou punir como nação. Não devemos ser estúpidos sob tal visitação. Mesmo a reconhecida dificuldade de interpretar os atos de um Deus que opera maravilhas não deve nos dissuadir de buscar reverentemente aprender e usar bem as lições que Ele nos ensina. Nisto mesmo repousa uma parte importante da disciplina à qual Ele nos submete nesta vida. Ele nos fala em Sua palavra com toda a clareza, do verdadeiro caminho da vida por meio de seu Filho Jesus Cristo. Ele envia seu Espírito a todos os estudantes humildes e devotos da palavra para selar em seus corações mais íntimos suas verdades salvadoras. Essas verdades geram o constante tema do púlpito. Elas vêm com autoridade, desafiando todos os homens a crerem no nome daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Aquele que tem ouvidos para ouvir recebe a ordem de ouvir e viver. Aquele que não ouve e nem crê dá uma prova melancólica de que a verdade não está nele.
Mas além da voz da palavra escrita, clara e infalível em seus ensinamentos, Deus fala conosco quase que diariamente por Sua providência para conosco como indivíduos, e como associados uns aos outros formando parte de uma comunidade ou de uma grande nação. A voz de Deus ouvida em Seus atos providenciais é muito parecida com a mesma voz falando na porção profética da palavra escrita. O significado é frequentemente obscuro e propositalmente obscuro. No entanto, há sempre um significado profundo, importante e que o próprio Deus tornará claro no devido tempo. Deus muitas vezes será Seu único intérprete, tornando evidente pelo evento o que o fraco sentido do homem havia pronunciado emaranhadamente confuso. Ele nos ensinará pela disciplina da espera paciente. Ele nos impressionará com a lição saudável que Santo Agostinho ensina quando diz: “Vamos admitir que Deus pode fazer algumas coisas que não podemos entender”.
No entanto, ainda é verdade que Deus fala conosco em Sua Providência e que Ele contempla ser ouvido. Isso é ensinado pela experiência cristã individual. Nenhum cristão que anda pela fé tem qualquer dúvida sobre esse assunto, enquanto, ao mesmo tempo, poucos são tão entusiasmados a ponto de reivindicar infalibilidade para suas interpretações dos propósitos providenciais de Deus. O curso seguro e realmente seguido por todo cristão devidamente consciente tanto da proximidade de Deus a ele, quanto do mistério de Seus feitos, evita, por um lado, toda indiferença aos eventos da providência de Deus — pois tal indiferença é simplesmente ateísmo prático — e, por outro lado, o erro perigoso de entusiastas tolos que seriam tão sábios quanto o próprio Deus. Se, com esse espírito, buscarmos lucrar com os ensinamentos da providência de Deus em nossa presente angústia, nossos erros se mostrarão inofensivos, e nossos corações serão confortados pelas consolações da palavra de Deus, que não são poucas e nem pequenas.
E primeiro vamos lamentar sobre esse grande luto nacional, pois todos nós sentimos que ele tem essas proporções. Posso, com toda a sinceridade, adaptar às nossas circunstâncias atuais a lamentação do rei Davi sobre o corpo de Abner, assassinado justamente quando a guerra entre Israel e Judá havia sido encerrada com a reunião deles sob o comando de seu rei ungido e legítimo. Não sabeis, disse o rei Davi aos seus servos, que “há um príncipe e um grande homem caído hoje em Israel. Como um homem cai diante de homens ímpios, assim ele caiu”. A história acrescenta: “O rei levantou a voz e chorou no túmulo de Abner, e todo o povo chorou”. As lágrimas de uma nação estão sendo derramadas agora pelo presidente Lincoln. Se a rega de lágrimas pode manter verde o gramado que agora cobre seu local de descanso, o verde será por muito tempo sua vestimenta, mesmo que esse local seja como as montanhas de Gilboa onde Saul e Jônatas caíram — sem a irrigação dos orvalhos e chuvas do céu. Não é profecia dizer que aquele lugar, onde quer que esteja, se tornará um local de peregrinação e que lá, como em Mount Vernon, todos receberão uma inspiração mais plena de patriotismo altruísta e decidirão novamente nunca abandonar sua fé em Deus e nem trair a República.
Outros tratarão da vida e do caráter de Abraham Lincoln. É desnecessário que eu o faça. Acredito que ele já é compreendido por todos os que desejam entendê-lo. Suas imperfeições, especialmente, são conhecidas por todo o mundo. Suas virtudes são conhecidas pela grande massa daqueles por quem ele trabalhou e morreu. Estou confiante de que o lapso de tempo não trará nenhuma reversão do veredito popular, pois o povo sempre entendeu o presidente Lincoln e confiou nele. O povo lamentará a sua perda, pois sempre sentiu que ele os entendia e se considerava fiador, para eles e sua posteridade, das liberdades, imunidades e bênçãos de cidadãos dos Estados Unidos da América do Norte. Ninguém pode dizer que ele traiu sua confiança, até a hora fatal em que foi abatido pela mão de um assassino. E a América nunca perderá a alta posição que conquistou entre as nações, enquanto homens do temperamento de Abraham Lincoln forem encontrados limpando suas florestas e cultivando seus vastos campos, satisfeitos com os prazeres simples da vida doméstica, mas prontos para o chamado de seu país para assumir qualquer posição de serviço honroso e ousar qualquer coisa para proteger o depósito sagrado da vida e das liberdades da nação. Aqui reside a nossa verdadeira força e glória nacionais. Não reside, como muitos imaginaram tolamente, nas alardeadas perfeições de nosso Governo e em uma Constituição. Nenhuma perfeição pertence às nossas instituições e forma de governo, e se a virtude e moralidade nacionais forem minadas por um processo há muito tempo, infelizmente, em andamento — a propagação da corrupção de uma classe de nossos homens públicos que não têm princípios, por meio de indivíduos, para a grande massa da nação — a força nacional desaparecerá e a República se tornará decadente, sem uma única mancha ou rasura em sua Constituição. Se esse processo não for apurado — se a política se tornar sinônimo de desonestidade e trapaça, e a moralidade nacional for oferecida como um holocausto à ambição e ganância daqueles que aspiram a cargos — então que Deus nos dê a sabedoria e a graça para nos submetermos a algum braço e vontade fortes o suficiente para rasgar a Constituição em mil pedaços, pois ela foi feita para um povo apto a ser livre. Seus autores nunca a projetaram para sobreviver às virtudes da nação. O sonho dos antigos que atribuíram este mundo, tão cheio de beleza, ordem e adaptações infinitas a um concurso fortuito de átomos girando no espaço, não é mais infundado do que qualquer sonho de liberdade, ordem e bem-estar na República dos Estados Unidos, quando a integridade da inteligência e a moralidade deixarem de caracterizar a massa de seu povo. Nesse caso, os próprios recursos materiais da nação agravarão tanto o mal de seu exemplo e influência, que em breve algum poder será levantado por Deus para abater o incômodo monstruoso e estabelecer um governo de força física sobre as ruínas da República de Washington. É de se esperar que a carreira de Abraham Lincoln, e a memória de sua pureza moral e integridade política, repreendam a degeneração e corrupção dos tempos, e alertem o povo a nunca depositar confiança pública em homens que não mantêm nenhuma fé privada.
Uma lição que aprendemos com as muitas experiências dolorosas dos últimos quatro anos, e agora imposta a nós pela informação que acabamos de receber, é o valor individual dos homens para o bem-estar público. Agora parece provável que a vontade individual e o julgamento de relativamente poucos homens tenham dado direção e caráter a uma luta de magnitude sem precedentes, na qual os combatentes foram milhões. A história ensina a mesma lição. A história do mundo é apenas a biografia de relativamente poucos indivíduos. Todos os grandes eventos e revoluções naturalmente se agrupam em torno de alguns nomes históricos. No entanto, em tempos de silêncio e paz, isso é esquecido ou ignorado. O povo dos Estados Unidos precisava aprender esta lição. Grandes homens e grandes estadistas pareciam abundar. Era difícil encontrar cargos adequados para todos os que eram preparados para preenchê-los, sem um sistema cego de rotação no cargo, que depôs igualmente os bons e os maus, geralmente para elevar os maus e os piores. O estadismo estava se tornando rapidamente impossível, pela estupidez do povo em permitir que servidores públicos fiéis e capazes fossem substituídos por homens indignos de confiança. A petulância em cortejar o favor popular era vista como mérito e era quase certo que, mais cedo ou mais tarde, seria recompensada. Talentos de alta ordem fizeram de seu possuidor o inimigo comum de homens medíocres, e sua oposição unida e persistente raramente deixava de destruir suas perspectivas de alta promoção.
Mas o dia do julgamento chegou. A tempestade atingiu o navio do estado e quase o varreu de seus homens públicos. Poucos se mostraram honestos e capazes em toda a extensão das exigências nacionais; e hoje, se não me engano, todos os que realmente amam seu país sentem por aqueles que foram fiéis e capazes uma afeição nunca antes sentida por nossos servidores públicos. Não temos ninguém para poupar. Esse sentimento de perigo percebido para o país foi o que tanto assustou a todos quando foi sussurrado pela primeira vez que tanto o presidente Lincoln quanto seu secretário-chefe haviam sido assassinados. A perda nacional, mais até do que o pavor por um crime tão horrível, empalideceu os rostos dos homens. Se é possível que tal feito tenha dado prazer a qualquer um, é porque a esperança é alimentada de que das vidas desses dois homens depende a salvação da União. Que toda a nação possa aprender a valorizar o verdadeiro mérito, a sustentar a reputação de nossos homens públicos, a recompensar seus serviços com honrosa independência enquanto vivem e, quando morrerem, a pagar às suas memórias um tributo de gratidão e afeição que, nas mentes de todos os jovens ingênuos, é o mais poderoso e nobre incentivo para grandes feitos a serviço de seu país. Ouvi tantas injúrias contra servidores públicos, tamanha difamação de caráter, que é uma tarefa grata até mesmo compartilhar as lágrimas da nação sobre o túmulo de um patriota morto, como somos chamados a fazer hoje. Que Deus conceda que esse sentimento de perda sentido pela nação, quando um único homem é repentinamente removido, possa ter um efeito duradouro e salutar sobre todos os nossos compatriotas.
No entanto, a principal verdade que precisamos aprender, que tanto as nações quanto os indivíduos são tão propensos a esquecer, é que Deus é o “refúgio e a força” das nações, bem como dos indivíduos. Seus melhores dons podem não ser possuídos e desfrutados por muito tempo, para que não esqueçamos o doador, em nossa satisfação com o presente. O orgulho é talvez nosso grande pecado nacional. Ele está tão profundamente enraizado quanto a medula em nossos ossos. Salomão disse: Ainda que você moa o insensato no almofariz como o trigo no pilão, não conseguirá extrair a insensatez dele. Autoestima em um grau desordenado é nossa loucura aos olhos de Deus. Ele não nos moeu verdadeiramente em um pilão por quatro longos anos, mas quem dirá que nossa loucura se afastou de nós. Talvez na hora exata em que esse golpe veio, a nação estava tonta com autoexaltação e autoglorificação. Agora, se Deus tem uma controvérsia conosco a esse respeito — se Ele deve ser exaltado por nós como um povo, esse pecado e loucura devem ser confessados e lamentados. Se nosso patriotismo e esperança batem alto hoje, é porque Ele tem sido nossa ajuda e força em nosso tempo de angústia. Quantas vezes não fomos levados a sentir nossa dependência dele quando derrotas amargas vieram sobre nós! Quando esse perigo está quase passado, outro aparece, e por ele somos advertidos de que alguma parte vulnerável está sempre exposta — quer seja na paz ou na guerra, somente Deus é nossa força e nosso escudo. Seu propósito permanecerá firme, e a única segurança para os interesses humanos é encontrada em identificá-los com os interesses mais elevados do Reino de Cristo. Estes e somente estes são garantidos por uma promessa além de qualquer possibilidade de anulação. Nossa nação e instituições da atualidade permanecerão, desde que estejam em harmonia com os interesses do Reino de Cristo, o único que tem a promessa de permanecer para sempre.
Enquanto a história bíblica e inspirada corre paralela à história profana, somos claramente informados de que a sorte dos impérios era determinada por sua relação com o povo escolhido de Deus. Desde os dias dos apóstolos, perdeu-se a chave para interpretar, sem perigo de erro, o propósito de Deus a respeito de Seu povo e do mundo. No entanto, é tão verdadeiro para os impérios e repúblicas modernas que seu destino deve ser determinado por sua relação com os interesses da verdadeira Igreja de Cristo, como sempre foi para os antigos impérios agora em ruínas. Nenhum crente sincero na revelação pode duvidar disso. Nada é certo e estável que não seja da nomeação de Deus, e que ele próprio não sustente. Nenhuma nação ou forma de governo tem tal promessa de permanência. É a única glória da verdadeira Igreja de Cristo. É com respeito ao Reino espiritual do qual Cristo é a Cabeça que Deus disse em Jeremias 33.20-21: “Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança com o dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noite a seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo, para que não tenha filho que reine no seu trono; como também com os levitas sacerdotes, meus ministros”. É somente em referência às conquistas do reino de Cristo que Deus jurou por si mesmo, dizendo: “A palavra saiu da minha boca em justiça, e não retornará — Que a mim todo joelho se dobrará e toda língua jurará”. O mesmo pensamento é estabelecido neste Salmo. A glória de Jerusalém era que Deus estava no meio dela. Enquanto este foi o caso, embora os pagãos se enfurecessem, e os reinos fossem movidos, ainda assim o autor do Salmo foi sustentado pela sublime confiança de que Deus manteria Jerusalém, sua cidade e seu trono, entre os homens.
Estamos justificados em saciar essa esperança e confiança, com relação ao nosso país, de que “Deus está no meio dele” e que Ele será nosso refúgio e fortaleza? Não sejamos presunçosos, mas ponderemos alguns fatos da nossa história. A América foi plantada e povoada por homens dos quais a Europa não era digna. Eram homens que preferiam adorar a Deus na solidão do que brilhar nas cortes dos reis. Escócia, Holanda, França e Inglaterra enviaram seus filhos mais persistentes para o Novo Mundo, e tomaram posse dele em nome de Deus e da liberdade de consciência para adorá-Lo de acordo com Sua palavra. A maior parte de nossas instituições foi fundada por homens profundamente religiosos e tem sido principalmente nutrida por tais homens até hoje. Tão zelosamente vigiados são todos os nossos interesses religiosos que nenhuma interferência do governo é permitida. Os interesses da religião e da educação são confiados ao povo. De todas as novidades do governo dos Estados Unidos, a separação absoluta entre Igreja e Estado é a mais surpreendente. Pode-se agora afirmar que o povo pode seguramente receber em confiança esses preciosos interesses. A construção de igrejas, faculdades e escolas acompanhou o crescimento do país, embora esse crescimento tenha excedido todos os cálculos humanos. Quase todas as nossas instituições de ensino são decididamente religiosas em sua influência. O Evangelho é pregado com liberdade e poder na ampla maioria dos púlpitos do país. A pureza e a disciplina da Igreja são mantidas, pois nenhum decreto do poder civil pode interferir na liberdade de ação dela. E hoje, quando dificilmente uma nação da Europa não é inquietada por conflitos recorrentes e constantes entre a ação da Igreja e do poder civil, conosco cada um desses poderes age livremente em sua órbita prescrita e sem perigo de conflito. É provavelmente devido a essa liberdade de ação que a Igreja da América sempre foi cheia de vida, energia e entusiasmo. A Igreja Americana felizmente não entrou no abraço frio do estado e nunca deixou de se alegrar com a alegria de seus primeiros votos. Preciosos reavivamentos religiosos estão ocorrendo quase continuamente. E apesar da vasta maré de imigração – agora, infelizmente, infiel e imoral em seu caráter e influência – e da vasta extensão de novos territórios dentro de seus próprios limites a serem ocupados ano após ano, a Igreja da América tem seus missionários em todo o mundo. A pressão dos tempos não tem, até onde eu saiba, chamado nenhum deles de volta, enquanto vários reforços foram enviados. Há muito nessas considerações que garante uma interpretação favorável dos propósitos de Deus para com o nosso país, e a crença confiante de que, por amor ao Seu próprio nome, Ele nos preservará.
Não há nada nos últimos eventos que contradiga essa visão. Certamente nenhum homem que não tenha confundido riqueza material, extensão de território e poder físico com verdadeiro progresso em prosperidade substancial pode ter deixado de ver que ultimamente esse progresso e prosperidade eram vazios e falsos. Não entrarei em detalhes. Deixarei que cada um revise o passado por si mesmo e observe a direção a que tudo estava tendendo, e ele encontrará pouca dificuldade em interpretar tudo o que aconteceu conosco como um castigo para nossa reforma, em vez de um julgamento para nossa destruição. O mal era tão gigantesco que um remédio poderoso era necessário. Talvez ainda novas provações e dificuldades possam aguardar a nação. Ninguém pode se aventurar a afirmar que elas não são necessárias como disciplina e para desenvolver aquelas virtudes sólidas, que são a única base da verdadeira prosperidade. A experiência é a única escola na qual as verdadeiras virtudes nacionais são desenvolvidas e as punições de Deus são sempre bênçãos disfarçadas.
Como indivíduos, nosso dever é claro. Embora em uma terra estrangeira e devendo obediência às suas leis, nossa lealdade ainda é devida à terra de nosso nascimento. Enquanto a esta distância observamos com intenso interesse o curso dos assuntos nacionais, podemos nos identificar com nossos compatriotas em casa, sustentando sua honra e interesses no exterior, curvando-nos com eles diante de Deus em fervorosas súplicas por uma bênção sobre nosso país, nossos governantes e nossas instituições, e lamentando com eles a morte prematura de um Magistrado Chefe, que em tempos que provaram as almas dos homens foi fiel à confiança depositada nele pelo povo, e como ele próprio acreditava, sem dúvida, pelo Deus das nações. Ao se despedir de seus concidadãos e vizinhos em Springfield, para assumir as responsabilidades de seu cargo, ele pediu que orassem por ele, para que pudesse receber graça e força do alto para cumprir seu dever. Ele sempre reconheceu, em público e em particular, a mão de Deus em nossos assuntos e buscou Sua orientação. Sua última mensagem pública expressa a mesma fé. Ninguém que não esteja cheio de invencível preconceito suspeitará que o Presidente Lincoln seja insincero ou hipócrita. E agora que ele se foi para seu descanso e recompensa, vamos invocar a mesma proteção e orientação para aqueles que assumem suas grandes responsabilidades. Vamos ser fortes na fé sublime deste inspirado Salmo. Tenhamos certeza de que Deus é nosso refúgio e força. Fiquemos quietos sob os feitos de Sua providência, cujo mistério confunde nossa interpretação, e aprendamos que Deus é o Senhor, e todos os Seus atos, bons e corretos.
Texto traduzido pelo Presb. Diego Nascimento, da Igreja Presbiteriana de Lavras, MG.