No final de 1864, o Rev. Ashbel Green Simonton, tendo o auxílio do colega Alexander Latimer Blackford e do novo correligionário José Manoel da Conceição, lançou o jornal Imprensa Evangélica, o primeiro periódico protestante do Brasil. Os originais do primeiro número foram levados à Tipografia Universal dos Irmãos Laemmert em 25 de outubro, sendo publicados no dia 5 de novembro com uma tiragem de 450 exemplares. Um editorial intitulado “Prospecto”, certamente escrito por Simonton, dizia o seguinte:
Temos perlustrado todas as classes da sociedade com o desígnio de lhe prestarmos de um modo proporcionado às suas mais legítimas exigências na esfera religiosa. Em toda parte achamos disposição para conversações santas, desejo ardente de reformar o coração, esforços de uma alma aflita por se reconciliar com Deus. – Não importa isto um protesto solene de que não vivemos só para este mundo, senão também para um outro mundo, que infalivelmente nos espera, logo que a morte nos transforma?
O homem, porém, parece ter no peito, à hora da devoção, um coração inteiramente diferente daquele que revela sua vida comum. – Aqui seus atos não correspondem à religião que professa; e, se ali se mostra escrupuloso em praticar ações que lhe acarretarão a justiça de Deus, não se mostra menos naquelas que não revelam algum amor a Deus: nem sempre a santidade de suas obras confirma seus bons propósitos, raras vezes imitando a Jesus Cristo aqueles que mais publicamente o confessam.
No meio do caos de idéias religiosas que divide atualmente os homens, inútil fora descobrir-lhes as fontes donde borbulha o mal, se para curá-lo lhes não aplicássemos meios. A propagação do evangelho pela vivificação da devoção doméstica, pelo órgão de uma folha particularmente a isso consagrada, eis da nossa parte a aplicação dos meios. Se de nossos esforços não conseguirmos vingar o mínimo do nosso desígnio, ainda assim nos lisonjearemos jubilosos por havermos cumprido com o nosso dever.
Tal é a única missão da Imprensa Evangélica. Sairá um número de oito páginas, que, além dos artigos de fundo, conterá um noticiário universal de interesse puramente evangélico. Com o progresso de nossa igreja, iremos dando a nossa folha o desenvolvimento que lhe convém, por publicações variadas, que, sem se afastarem de seu principal objeto, lhe procurarão o atrativo da novidade nas formas.
Este trabalho, não tendo em vistas senão os interesses exclusivamente religiosos da sociedade em geral, como em particular do indivíduo, estranho a toda e qualquer ingerência em política, a todos é consagrado; porém com muita particularidade o dedicamos àqueles para quem a religião de Jesus Cristo ainda não se tornou coisa indiferente, e, no meio da perversão universal de seus princípios divinos, não trairão ainda o dom mais precioso de Deus – a liberdade de consciência perante o evangelho.
As outras matérias do número de lançamento possuíam os seguintes títulos: “Considerações sobre a religião”, “Testemunho de homens distintos sobre a excelência da Bíblia”, “Instrução e culto doméstico – o Pai Nosso”, “Lúcia ou a literatura da Bíblia” (por Alfred Monod), “A experiência de um velho cristão”, “A caridade”, “A Epístola de São Paulo aos Romanos analisada” e “Noticiário”.
Alguns dias antes, em 26 de outubro, Simonton havia anotado em seu diário: Ontem de manhã, Santos Neves e Quintana vieram até nossa casa receber os originais do primeiro número da Imprensa Evangélica, o jornal semanal que resolvemos publicar. Sinto mais a responsabilidade deste passo que de qualquer outra coisa que antes intentei. Primeiro nos ajoelhamos em oração e entregamos essa iniciativa e nós mesmos à direção divina. O caminho parece estar preparado e só nos resta avançar com ousadia. O missionário se referia a dois colaboradores: o poeta e compositor Antônio José dos Santos Neves e Domingos Manoel de Oliveira Quintana, um participante da Igreja do Rio.
Em 7 de fevereiro de 1865, no relatório anual que enviou ao periódico The Foreign Missionary, Simonton afirmou: “A fim de ampliar a nossa influência e alcançar aqueles que não frequentam a pregação da Palavra, foi iniciado em novembro um jornal religioso bimensal, denominado Imprensa Evangélica. O seu êxito está além das expectativas. Se for adequadamente sustentado e se tornar semanal, irá revelar-se um poderoso auxiliar”. O valioso periódico circulou durante 28 anos, até 1892. O reconhecimento da utilidade da palavra impressa como instrumento de evangelização e divulgação, levou os presbiterianos brasileiros a publicarem muitos outros jornais. Os mais conhecidos no final do século 19 e início do século 20 foram Púlpito Evangélico, Salvação de Graça, Revista das Missões Nacionais, O Estandarte, Norte Evangélico e O Puritano.