IPB: História e Identidade
Curadoria dos Museus da IPB

História da Escola Americana de Curitiba

Ida Eloise Kolb

Quando as duas senhoras missionárias, Miss Elmira Kuhl e Miss Mary Parker Dascomb, chegaram a Curitiba, existia uma escola cristã dirigida por D. Bella Carvalhosa, filha do pastor da igreja presbiteriana, Rev. Modesto P. B. de Carvalhosa. Dr. Horace Lane, o presidente do Mackenzie College, pediu a D. Bella que se associasse às senhoras missionárias na abertura de uma grande escola evangélica. Ela anuiu à proposta e a escola foi iniciada em janeiro de 1892 como a Escola Americana, com mais de 66 alunos – 52 tendo vindo da escola de D. Bella. Miss Kuhl assumiu a direção da escola. Miss Dascomb ficou à frente do Departamento Secundário e D. Bella do Primário. Miss Kuhl organizou de imediato uma classe para ensinar o catecismo, pois ficou claramente entendido que se tratava de um estabelecimento protestante e que o estudo da Bíblia e do catecismo era obrigatório. Houve muitas conversões e até hoje existem muitos homens e mulheres espalhados por este grande país pregando o evangelho e ensinando a palavra de Deus com o coração cheio de gratidão por seu treinamento inicial.

D. Bella Carvalhosa lecionou por três anos, partindo depois para São Paulo, a fim de lecionar na Escola Americana do Mackenzie College. Ela ofereceu 40 anos de amoroso serviço ao Mackenzie e aposentou-se honrosamente em 1935.

Por muitos anos todas as reuniões administrativas da Igreja, bem como as reuniões do Esforço Cristão, foram realizadas na escola. Nos domingos à tarde Miss Dascomb dirigia os cânticos na grande sala da frente. Todos aprenderam a cantar os hinos adequadamente. Era difícil para os tímidos, quando chamados para cantar um solo. Às vezes havia até mesmo lágrimas – mas sempre era melhor ir em frente.

Miss Effie Lenington substituiu Miss Kuhl e Miss Dascomb durante as licenças delas em 1898 e 1908. Miss Lenington era amiga pessoal de Miss Dascomb. Elas se conheceram quando Miss Dascomb foi professora em sua casa em Brotas, São Paulo. O Dr. R. F. Lenington recebeu grande parte de sua inspiração de sua “querida professora”, Miss Dascomb. Para ela, ele era sempre o “Fred” e durante os anos em que foi pastor da igreja presbiteriana em Curitiba Miss Dascomb foi uma grande inspiração e um grande auxílio para ele em seu trabalho. Miss Lenington permaneceu na escola no período 1903-1915. Ela deu o que tinha de melhor não somente para a escola, mas para a igreja e o povo de Curitiba.

D. Bertha Barddal e seu esposo foram auxiliares de Miss Kuhl por muitos anos. D. Bertha supervisionou o primário e treinou as jovens professoras. Seu esposo, Sr. Alberto Barddal, foi o tesoureiro da escola e também um excelente professor.

Em 1908, Miss Angie Kuhl e Miss Gertrude Lukens chegaram a Curitiba para prestar um ano de serviço à escola. Essas jovens encantadoras, recém-saídas da faculdade e cheias de amor e entusiasmo pelo trabalho, alegraram e iluminaram os corações de todas as crianças da escola e de todos com os quais entraram em contato. Mais tarde, em setembro de 1911, Miss Lukens retornou para dar outro ano de amoroso serviço à sua amada escola, como ela a chamava.

Em 1912 chegaram Miss Anna C. Palmer e Miss Dorothy Martin. Miss Palmer aprendeu a língua muito rapidamente e em breve tempo pôde ensinar a 5ª série com grande êxito. Ela era uma jovem brilhante e utilizou todos os seus talentos para a glória do Mestre, a quem serviu de todo o coração. Sua voz de soprano muito límpida sempre transmitia uma mensagem de alegria e conforto a todos os que a ouviam. Miss Martin lecionou para a 4ª série e auxiliou com seu trabalho de agulhas. Essas duas jovens missionárias também auxiliaram grandemente o departamento do internato, aliviando Miss Kuhl, que, na época, estava sobrecarregada. A escola havia se tornado tão grande que foi necessário pedir ao proprietário para construir cinco novas salas para acomodar o enorme número de 400 a 500 alunos do externato. Elas retornaram à pátria depois de prestarem três anos inteiros de amoroso serviço à causa de Cristo.

A propriedade da escola foi adquirida em 30 de janeiro de 1914. A casa da propriedade estava localizada na Rua Comendador Araújo. Ela recebeu o nome de Miss Kuhl. O excedente do internato mudou-se para ela sob a supervisão de Miss Kate Kuhl, irmã de Miss Kuhl, que veio visitá-la.

Miss Kuhl e Miss Dascomb apresentaram sua demissão em 1915. Miss Dascomb permaneceu na escola até seu falecimento, em 11 de outubro de 1917. Miss Kuhl retornou com sua irmã Miss Kate para a pátria, onde faleceu em 19 de outubro de 1917. Nenhuma delas soube da morte da outra. Durante os 23 anos de sua administração a escola se tornou uma grande força para o bem, sua influência alcançando todo o país, de norte a sul, de leste a oeste. Elas viveram nobremente e morreram nobremente. Todos os que entravam em contato com Miss Dascomb e Miss Kuhl jamais as esqueciam. Miss Kuhl era chamada “o anjo da bondade” e Miss Dascomb “nossa querida professora”. Essas duas nobres mulheres continuam a viver nos corações de centenas de brasileiros.

Três dos primeiros alunos de Miss Dascomb matriculados em janeiro de 1892 foram dois meninos, Ray e Philip Landes, e uma menina, Maria Augusta dos Santos. Hoje Ray Landes é um dinâmico membro e oficial da Union Church, no Rio de Janeiro. Philip Landes é um dos mais eloquentes e consagrados missionários do Brasil. Maria Augusta dos Santos Jouve, que nunca professou a fé publicamente, mas é uma cristã de coração, ofereceu 25 anos de amoroso serviço à sua amada escola. D. Maria Augusta é não somente uma amada avó de seus próprios netinhos, mas a apreciada avó de toda a cidade. Ela é atualmente a vice-diretora da Escola Americana.

Mais tarde foram matriculados outros alunos, como Tancredo Costa, filho do ex-sacerdote Lino da Costa, que posteriormente estudou para o ministério e é agora um eloquente pregador do evangelho em São Sebastião do Paraíso; Anna Rickli, a menininha interiorana de olhos azuis que apareceu na escola com um vestido muito longo para uma menina pequena, seu cabelo atado em um pequeno nó, tímida e desajeitada a princípio. Ela se transformou em uma jovem encantadora, muito capaz e muito inteligente. Recebeu sua formação como professora, em seguida foi para o Mackenzie College por dois anos e então retornou para lecionar na 6ª e na 7ª séries. Por vários anos realizou um esplêndido trabalho na escola e então foi lecionar no Instituto Cristão em Castro, Paraná, indo posteriormente para Lages, Santa Catarina, para ser diretora da Escola Evangélica. Sua maneira atraente e seu belo caráter cristão têm sido instrumentos para levar muitos a Cristo.

Elvira Bastos também se tornou uma jovem muito capaz. Ela é agora a esposa do Rev. Rodolfo Anders, secretário da União de Escolas Dominicais do Brasil. Elvira Bastos Anders tem demonstrado ser muito eficiente no preparo das lições para o Departamento Primário, nas palestras sobre o trabalho da escola dominical e na educação dos filhos. A lista de homens e mulheres destacados de hoje que foram alunos de Miss Dascomb é tão longa que seria impossível lembrar todos os nomes. Mas havia ainda uma menininha tímida, ruiva e de rosto muito sardento que se matriculou em 1903 como uma das alunas de Miss Dascomb. Ele ficou tão apegada à escola que retornou mais tarde para lecionar e permaneceu durante 25 anos.

Em 1915, a Sra. W. M. Hallock assumiu toda a responsabilidade da escola. Tanto a organização como os métodos experimentaram uma completa transformação, tornando-a uma escola atualizada. A Sra. Hallock fez os planos para o novo edifício da escola e supervisionou a construção. Ela também elaborou o projeto do novo dormitório que deveria ser construído mais tarde. O edifício do externato está de frente para a Av. Vicente Machado. Recebeu o nome de Miss Dascomb e no mesmo ano em que a escola se mudou para o novo edifício ela foi chamada ao lar.

A escola continuou seu esplêndido trabalho com o auxílio de Miss Jean Stoner, que chegou em 1916. Miss Stoner foi uma brilhante professora tanto na Escola Americana como na escola dominical. Serviu como tesoureira da Missão Sul do Brasil. Na época da epidemia de tifo, a Sra. Hallock ficou gravemente enferma; Miss Dascomb faleceu repentinamente; Miss Belle McPherson, que estava a cargo das meninas do internato, abriu mão do seu tempo para cuidar de Miss Hallock. Isso fez recair toda a responsabilidade sobre Miss Stoner. É suficiente dizer que ela esteve à altura da tarefa. Em 1920 Miss Stoner foi chamada para a pátria por causa de enfermidade na família.

Miss Ethelwyn Porter foi então convidada para lecionar às séries superiores. Miss Porter ofereceu um ano de esplêndido serviço à escola. Seu belo caráter cristão e sua maneira muito atraente de ensinar causaram forte impressão nos seus alunos. Vários deles ainda se correspondem com ela. Miss McPherson continuou a ser a paciente enfermeira e a devotada auxiliar do internato. Ela estava especialmente interessada nas almas das meninas a seu encargo. Sua mão estava sempre estendida para aqueles em necessidade. Os grandes dons que recebeu para usar para si mesma foram direcionados para tornar o internato mais confortável e mais atraente. Ela retornou à pátria em 1927, deixando muitos corações gratos e muitos, muitos amigos.

Em 1922, tendo a Sra. Hallock aceitado a direção da Escola Americana do Mackenzie College, em São Paulo, Miss Gavena Hall assumiu a direção da escola de Curitiba. Ela supervisionou a construção do novo dormitório, que recebeu o nome da Sra. Sage, que doou o edifício. Durante os anos de sua administração, o dormitório atingiu sua capacidade máxima – 50 meninas. Miss Hall era uma cristã verdadeira, de coração, e estava especialmente interessada nas almas de seus alunos. Grande número de internas deu seu testemunho público em diferentes ocasiões e até hoje existem muitos lares mais alegres devido ao seu trabalho dedicado. Miss Helga Johnson foi grande auxiliar de Miss Hall. Seu sorriso radiante e sua bondade ganharam os corações de todos os jovens. Ela deixou muitos amigos não somente em Curitiba, mas em Castro, onde colaborou no Instituto Cristãos por vários anos. Em 1925 Miss Hall retornou à pátria, deixando a escola em esplêndida condição financeira.

Em 1926, Miss Helen Waddell, jovem e muito talentosa, assumiu a direção, levando adiante o trabalho do modo muito bem-sucedido. Durante os quatro anos de sua administração, grande número de alunos concluiu a 7ª série, recebendo certificados da escola. A maior parte desses jovens continuou seus estudos em outras escolas e agora honram o esplêndido treinamento que receberam na Escola Americana sob a direção eficiente de Miss Helen Waddell.

Em novembro de 1929, foi decidido que o curso de sete anos fosse reduzido para cinco anos, a fim de preparar os alunos para os exames do governo no Ginásio. De outra maneira, perderiam dois anos. Miss Ida E. Kolb, então bem familiarizada com a inteira dinâmica da escola, assumiu a direção, ao passo que Miss Waddell pôde no ano seguinte ser de maior utilidade como professora do J. M. C., em Jandira, São Paulo.

O novo plano para a escola parecia estar funcionando muito bem quando repentinamente irrompeu a primeira revolução em 1930, prejudicando os planos de muitos pais. A escola sentiu isso de imediato quando eis que de repente, em 1932, quando as coisas pareciam mais animadoras, irrompeu a segunda revolução. Nessa ocasião, as escolas de todo o país começaram a sentir os seus efeitos e imaginaram como poderiam se manter. A Escola Americana experimentou todas essas dificuldades apegando-se firmemente às suas gloriosas tradições e destacando-se pelos sadios princípios cristãos que havia defendido no passado. Com o máximo de boa-vontade da parte das professoras, a escola conseguiu resistir durante os cinco anos da depressão.

O Rev. Luiz L. A. César, pastor da Igreja Presbiteriana de Curitiba, estava muito desejoso de abrir um Ginásio em conexão com a Escola Americana, onde os jovens também pudessem ser alcançados e receber treinamento cristão. A Missão Sul do Brasil considerou a proposta e foi decidido que o Rev. César assumisse toda a responsabilidade nos cinco anos seguintes. Miss Kolb aceitou o convite do presidente do Mackenzie College para assumir a direção da Escola Americana em São Paulo.

Em 4 de dezembro de 1934, o Dr. R. F. Lenington, advogado da Junta de Nova York, entregou a propriedade da Missão ao Rev. Luiz L. A. César. Em março de 1935 foi fundado o Ginásio Belmiro César, com excelente matrícula. O Rev. César tem o seu coração nessa escola. É seu único desejo continuar as gloriosas tradições da Escola Americana de Curitiba.

São Paulo, 15 de dezembro de 1936

Tradução de Alderi S. Matos do original existente na Sociedade Histórica Presbiteriana (Filadélfia, EUA).

Nota sobre a autora: a professora Ida E. Kolb era filha do dedicado missionário Rev. John Benjamin Kolb, que trabalhou em Sergipe, Bahia, São Paulo e Paraná. Foi professora e diretora da Escola Americana de Curitiba e da Escola Americana de São Paulo. Por muitos anos, ela e alguns irmãos foram membros ativos da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo. Seu nome foi dado a uma rua na Zona Norte de São Paulo.

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