INTRODUÇÃO
A igreja cristã experimentou importantes mudanças nas últimas décadas do primeiro século. Essas mudanças foram tanto de caráter teológico quanto institucional. Um dado significativo é que temos poucas informações sobre esse período (anos 70 a 95). Nenhum documento importante dessa época chegou até nós. Quando os documentos reaparecem, a partir do ano 95 (ano aproximado da perseguição de Domiciano), nos deparamos com uma igreja mais organizada e centralizada administrativamente, bem como com ênfases teológicas um tanto diferentes daquelas do Novo Testamento. São os primórdios do surgimento da igreja “católica”. O chamado “velho catolicismo” é uma referência à igreja pré-constantiniana, ou seja, anterior ao imperador Constantino (ano 313), cujas ações decisivas analisaremos na próxima parte.
1. A IGREJA “CATÓLICA”
No segundo século, diante de crescentes problemas internos (diversidade teológica, heresias) e desafios externos (acusações, perseguições), a igreja sentiu a necessidade de definir mais claramente a sua identidade institucional e teológica. O objetivo visado era a obtenção de maior unidade estrutural e uniformidade doutrinária. Desse processo resultou a igreja “católica”.
A expressão “igreja católica” é encontrada pela primeira vez numa carta escrita pelo bispo Inácio de Antioquia à Igreja de Esmirna, por volta do ano 110. A palavra vem do grego katholikos e significa geral, universal (de kata = “de acordo com” + holos = “o todo”). A partir do segundo século, a expressão foi utilizada para designar a igreja apostólica e ortodoxa, a corrente principal do cristianismo, em contraste com os movimentos dissidentes, com os grupos heterodoxos ou heréticos.
A igreja católica caracterizava-se pelos seguintes elementos de unidade e identidade:
O bispo monárquico: ao contrário do primeiro século, em que cada igreja tinha vários bispos ou presbíteros, agora cada igreja passou a ter um só bispo, com autoridade sobre os presbíteros e os diáconos. Para isso, deu-se ênfase à ideia de sucessão apostólica. Os bispos tornaram-se os guardiães da unidade e ortodoxia da igreja. O crescimento da importância dos bispos eventualmente deu grande destaque aos bispos das cidades mais importantes, especialmente o de Roma.
A regra de fé: as verdades fundamentais da fé cristã passaram a ser claramente expressas na forma de credos “trinitários”. Essas declarações de fé tinham fins didáticos ou catequéticos, confessionais, litúrgicos e apologéticos. Encontramos alguns exemplos antigos dessa regra de fé nos escritos de Irineu (ver adiante). À medida que o tempo passou, os credos foram ficando mais extensos e complexos, até chegarmos aos séculos IV e V com suas sofisticadas formulações credais.
O cânon do Novo Testamento: a formação do cânon resultou do reconhecimento informal e consensual da literatura cristã tida como divinamente inspirada e, portanto, normativa para a vida e a fé da igreja. Inicialmente foram reunidos os quatro evangelhos e as epístolas paulinas, tendo o livro de Atos dos Apóstolos como elo de ligação entre as duas coleções. Por último, foram acrescentados as epístolas gerais (Hebreus a Judas) e o Apocalipse. Os critérios de inclusão no cânon foram os da apostolicidade, ortodoxia e aceitação geral. Alguns livros levaram mais tempo para ser aceitos do que outros.
2. OS PAIS APOSTÓLICOS
O final do primeiro século e o início do segundo marcam também o início da era dos pais da igreja. Trata-se dos antigos autores cristãos que, com seus escritos, instruíram as igrejas, articularam a doutrina cristã e combateram desvios teológicos do seu tempo. Eles podem ser entendidos como os campeões ortodoxos da igreja e os expositores da sua fé. O estudo dos pais da igreja geralmente é designado por dois termos correlatos: patrística e patrologia. A patrística refere-se ao estudo do pensamento dos pais, da sua teologia, e a patrologia é o estudo histórico dos próprios personagens e da sua obra.
O conjunto dos primeiros escritos cristãos ortodoxos posteriores ao Novo Testamento é conhecido pelo nome de “pais apostólicos”. Eles são designados “apostólicos” porque surgiram pouco depois dos apóstolos e revelam certa conexão com eles. É importante observar que a expressão “pais apostólicos” não designa somente indivíduos, mas também documentos anônimos. O período aproximado em que foram produzidos vai de 95 a 150 DC.
Os pais apostólicos não contêm nenhuma teologia elaborada. São antes declarações simples e piedosas das verdades fundamentais da fé, ditadas principalmente por um interesse pastoral. As principais características desses autores e documentos são as seguintes:
- Ausência de elaborações filosóficas
- Grande reverência pelo Antigo Testamento
- Interpretação tipológica (e alegórica) das Escrituras
- Familiaridade com as formas literárias do Novo Testamento
- Preocupação pastoral e prática: exortação à paz, unidade e pureza da igreja; ênfase ao episcopado; celebração do martírio
A maior parte dos pais apostólicos é constituída de literatura epistolar, ou seja, cartas. Dois deles correspondem a outros gêneros, um à literatura apocalíptica e outro à literatura catequética. A relação completa é a seguinte:
Clemente de Roma (c. 30-100), um dos bispos da igreja de Roma, escreveu em nome da sua igreja à igreja co-irmã de Corinto, exortando os crentes a serem submissos aos seus presbíteros. Essa epístola, conhecida como I Clemente, foi escrita por volta do ano 95.
Inácio, o bispo de Antioquia da Síria, foi condenado à morte por volta do ano 110 e levado a Roma para ser executado. Durante a viagem, escreveu cartas às igrejas de Eféso, Magnésia, Trales, Roma, Filadélfia, Esmirna e a seu colega Policarpo. As preocupações dominantes são o martírio iminente do autor, a unidade da igreja e os movimentos heréticos e cismáticos.
Policarpo (c. 70-155), bispo de Esmirna, escreveu uma carta aos filipenses por volta de 110, contendo exortações práticas. Policarpo foi martirizado no reinado do imperador Antonino Pio.
Papias (c. 60-c.130), bispo de Hierápolis, na Frígia, escreveu as “Interpretações dos Ditos do Senhor”, sobre a vida e as palavras de Cristo. Essa obra só é conhecida através de trechos preservados por Irineu de Lião e Eusébio de Cesareia.
Epístola de Barnabé (c. 130): escrita por um cristão anônimo de Alexandria, afirma a suficiência de Cristo em relação à lei de Moisés, utilizando amplamente a tipologia e a alegoria.
O Pastor, de Hermas (c. 150): baseado no Apocalipse, tem um objetivo moral e prático, dando ênfase ao arrependimento e a uma vida de santidade.
II Epístola de Clemente aos coríntios (c. 150): não foi escrita por Clemente, nem é uma carta, e sim um sermão ou homilia do segundo século.
Didaquê ou O Ensino dos Doze Apóstolos (2° séc.): é um manual de instrução para a igreja, abordando ensinos éticos, normas litúrgicas, os oficiais da igreja e questões disciplinares. É muito útil para o estudo da igreja sub-apostólica.
Epístola a Diogneto (c. 200): foi escrita por um autor anônimo a um destinatário desconhecido (tutor de Marco Aurélio?). Tem caráter apologético (= defesa racional do cristianismo) e às vezes é incluída entre os pais apologistas (ver adiante).
Os interessados que desejarem ler na íntegra, em português, esses importantes escritos, poderão encontrá-los na Coleção Patrística (São Paulo: Paulus Editora), vols. 1 e 2.
3. DESAFIOS ENFRENTADOS
Como já foi apontado, a igreja desde cedo se defrontou com formidáveis desafios, tanto dentro de suas fileiras quanto fora das mesmas.
3.1 Desafios internos
Os principais desafios internos do segundo e terceiro séculos foram algumas interpretações da fé cristã consideradas heterodoxas pelo grupo majoritário. As principais foram as seguintes:
Docetismo: era o entendimento de que Jesus Cristo não havia de fato assumido uma natureza humana, corpórea. Antes, ele tinha apenas uma aparência de humanidade (daí, docetismo, do grego dokéo = “parecer”), sendo uma espécie de fantasma ou aparição. Essa posição já é condenada nas epístolas joaninas (ver 1 João 4.2; 2 João 7). As cartas de Inácio de Antioquia contêm muitas condenações do docetismo.
Gnosticismo: foi uma filosofia religiosa de natureza altamente especulativa que surgiu no primeiro século, mas tornou-se uma grande ameaça para o cristianismo majoritário a partir de meados do século II (c. 130-160). Partindo de uma concepção dualista acerca do mundo (espírito x matéria), propôs uma reinterpretação radical da fé cristã, negando doutrinas como a criação, a encarnação e a ressurreição. A salvação vinha através do conhecimento (gnosis) acerca da verdadeira origem e destino da alma. Esse conhecimento mais profundo era transmitido somente aos iniciados. Havia várias modalidades de gnosticismo (sírio, egípcio, judaizante).
Marcionismo: Márcion ou Marcião foi um cristão do Ponto, na Ásia Menor, que chegou a Roma por volta do ano 144. Partilhando da cosmovisão gnóstica, ele propôs uma descontinuidade radical entre a velha e a nova dispensação (o cristianismo não tinha nada em comum com o judaísmo, sendo uma religião inteiramente nova). Assim sendo, ele rejeitou por completo o Velho Testamento e o seu Deus, Jeová, tido como uma divindade inferior, o criador da matéria. Em contraste com Jeová (um ser justiceiro e vingativo), o Deus verdadeiro, o Pai de Jesus Cristo, é um Deus plenamente amoroso e perdoador, que não condena ninguém. Portanto, no fim todos irão se salvar. Márcion foi o primeiro indivíduo na história da igreja a elaborar uma lista de escritos cristãos normativos. O seu cânon continha apenas o evangelho de Lucas e as cartas de Paulo às igrejas (sem as pastorais), tendo excluídas as suas referências ao Velho Testamento. O cânon marcionita forçou a igreja a elaborar a sua própria lista de livros autorizados, ou seja, o Novo Testamento.
Montanismo: esse antigo movimento de natureza entusiástica ou carismática, autodenominado “Nova Profecia”, surgiu na Frígia, Ásia Menor, na década de 170. Foi iniciado por um cristão chamado Montano, que era acompanhado de duas profetizas, Priscila e Maximila. Montano considerava-se o instrumento especial do Paracleto (o Espírito Santo) e anunciou o iminente fim do mundo e a descida da Nova Jerusalém em sua região, a Frígia. O montanismo foi um protesto contra o crescente mundanismo da igreja e, devido a seus rigorosos padrões morais, atraiu a simpatia do grande intelectual cristão Tertuliano de Cartago, sobre o qual falaremos adiante.
Monarquianismo: no segundo século houve intensa reflexão sobre a teologia do Logos (Cristo como o Verbo) e suas implicações. Vários pensadores cristãos, na ânsia de defender a convicção básica do monoteísmo ou a unidade do Ser Divino (daí, “monarquia”, isto é, governo de um só), acabaram por negar a divindade ou a personalidade distinta do Filho e do Espírito Santo. Houve duas manifestações básicas: (a) Monarquianismo Dinâmico: afirmava que Jesus era um homem comum que foi adotado por Deus na ocasião do seu batismo, sendo revestido do poder divino (daí, “dinâmico”, de dynamis = poder). Essa posição, abraçada pelos ebionitas e por Paulo de Samosata, também é chamada adocionismo. (b) Monarquianismo Modalista: afirmava que Pai, Filho e Espírito Santo são três modos ou manifestações sucessivas (não simultâneas) do único Deus. Também é conhecido como sabelianismo, por causa de um de seus defensores (Sabélio). Uma variante dessa posição é o patripassianismo, a noção de que o próprio Pai sofreu na cruz (defendida por Práxeas e Noeto).
3.2 Desafios externos
No segundo e no terceiro séculos, além dos questionamentos internos, o jovem movimento cristão enfrentou formidáveis ameaças externas.
Em primeiro lugar, houve o recrudescimento das perseguições por parte do Império Romano. A bem da verdade, é preciso observar que, com algumas exceções, essas perseguições não foram contínuas nem generalizadas. As causas iam desde as habituais alegações de incesto (por causa da ênfase no amor fraternal), canibalismo (por causa da Ceia do Senhor) e ateísmo (pela negação dos deuses), até acusações mais especificamente políticas de subversão, falta de patriotismo e deslealdade ao império, principalmente em virtude da recusa dos cristãos em participar do culto imperial.
Duas perseguições intensas, mas localizadas, ocorreram nos reinados de Marco Aurélio e Sétimo Severo. A primeira atingiu as igrejas de Lião e Viena, na Gália, no ano 177; a segunda abateu-se sobre o Egito e Cartago nos anos 202-206. Alguns mártires famosos foram Justino, Potino, Blandina, Perpétua e Felicidade. Muito mais grave foi a perseguição geral movida pelo imperador Décio em 250-251. Decidido a impor em todas as regiões o culto imperial, Décio exigiu que todos tivessem um certificado de sacrifício (libellus). Muitos cristãos foram martirizados e outros conseguiram sobreviver aos maus tratos (os confessores). Muitos outros negaram a fé: alguns simplesmente ofereceram o sacrifício e ficaram conhecidos como sacrificati; outros, os libellatici, compraram certificados falsos. Passada a perseguição, muitos desses relapsos procuraram reingressar na igreja, gerando um sério problema pastoral para os bispos.
Em dois longos períodos de paz no terceiro século (206-250 e 260-303), a igreja experimentou um crescimento sem precedentes. Finalmente, no início do quarto século, ocorreu a última e a maior de todas as perseguições, sob os imperadores Diocleciano e Galério (303-311). Foram publicados editos ordenando em toda parte a destruição das igrejas e de cópias das Escrituras. Os cristãos que entregaram essas cópias ficaram conhecidos como traditores (= traidores). Dessa época data o cisma donatista, no norte da África. Os cismáticos, dentre os quais um certo Donato, alegaram que uma determinada consagração episcopal foi inválida porque um dos bispos consagrantes teria sido um traditor. O cisma donatista durou mais de um século, criando uma igreja paralela à igreja católica.
Outro desafio externo enfrentado pela igreja na era anterior a Constantino foram os ataques de ilustres intelectuais pagãos como Luciano de Samosata, Galeno e Celso na segunda metade do século II, e Porfírio, no século III. Numa época em que o cristianismo crescia a olhos vistos e incomodava seriamente o paganismo, esses homens cultos escreveram obras influentes em que os cristãos eram acusados de serem ignorantes, supersticiosos e inimigos da cultura e do conhecimento.
4. A DEFESA DA FÉ
Rapidamente surgiram no seio da igreja respostas de pensadores cristãos a esses desafios. Os defensores intelectuais do cristianismo no segundo e no terceiro séculos ficaram conhecidos como os apologistas e os polemistas.
4.1 Os apologistas
(de apologia = discurso de defesa) surgiram um pouco depois dos pais apostólicos, já estudados nesta seção. Quase todos viveram na segunda metade do segundo século. Suas características gerais são as seguintes: eram convertidos do paganismo ou do judaísmo, enfrentaram ataques externos, usaram principalmente o Antigo Testamento, defenderam ou explicaram o cristianismo e utilizaram formas literárias apologéticas ou dialógicas. Dirigiram os seus escritos às autoridades, bem como a judeus e a intelectuais pagãos, defendendo os cristãos das muitas acusações que lhes eram feitas.
Os apologistas foram os seguintes: Quadrato, Aristides, Justino Mártir, Taciano, Atenágoras de Atenas, Teófilo de Antioquia, Melito de Sardes e Hegésipo. O mais destacado deles foi Justino Mártir (100-165), um filósofo cristão que viveu em Roma e escreveu duas apologias e o Diálogo com Trifão, o Judeu. Taciano, seu discípulo, escreveu uma harmonia dos evangelhos, o Diatessaron, e um Discurso aos Gregos. Atenágoras escreveu a belíssima Súplica pelos Cristãos e Teófilo produziu a longa apologia A Autólico. Algumas dessas obras podem ser encontradas na já mencionada Coleção Patrística, vols. 2 e 3.
4.2 Os polemistas:
Outro grupo de defensores da fé foram os chamados polemistas, que viveram no final do segundo século e na primeira metade do terceiro. Em geral, tiveram maior estatura intelectual que os apologistas e foram mais agressivos do que eles em seus escritos (daí “polemistas”, do grego pólemos = guerra). Alguns deles dirigiram-se contra intelectuais pagãos; mais comumente, porém, voltaram-se contra falsos ensinos dentro da igreja. Esses pais da igreja viveram em três regiões distintas do Império Romano: Gália, Cartago (norte da África) e Egito. Os mais importantes foram Irineu de Lião, Tertuliano, Cipriano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Outros menos conhecidos foram Hipólito, Júlio Africano e Gregório Taumaturgo.
Irineu(c.135-c.200) foi bispo de Lião, no sul da Gália (atual França), e escreveu em grego uma monumental obra contra os gnósticos, intitulada Contra as Heresias. Quase na mesma época viveu em Cartago, uma colônia romana no norte da África, Tertuliano (c.160-c.220), o primeiro escritor cristão a utilizar o latim e por isso chamado de “pai da teologia latina”. Entre suas obras polêmicas, destacam-se Prescrição aos Hereges, Contra Márcion e Contra Práxeas, na qual antecipou a doutrina da trindade. No final da sua vida, aderiu ao movimento montanista. Outro importante escritor de Cartago foi o bispo Cipriano (c.200-258), que ressaltou a importância do episcopado e morreu como mártir. Em Alexandria, no Egito, foi fundada uma famosa escola catequética que teve como seus grandes líderes Clemente de Alexandria (c.150-c.215) e o extraordinário Orígenes (c.185-c.254), o mais influente pensador cristão do seu tempo e autor da obra Dos Primeiros Princípios, a primeira teologia sistemática, e de uma obra polêmica, Contra Celso, além de muitíssimos outros livros.
Leitura sugerida: Matos, Alderi Souza de. “A Divina Tríade: Irineu de Lião e a Doutrina de Deus”. Fides Reformata II:1 (1997), p. 137-150.
5. A VIDA DA IGREJA
No início do quarto século, o culto cristão estava mais formalizado e dotado de uma liturgia elaborada, principalmente no que concerne à celebração dos sacramentos. O batismo era precedido de uma longa preparação, o catecumenato, e geralmente ocorria na Páscoa ou no Pentecostes. Podia ser ministrado por imersão ou por efusão (água derramada sobre a cabeça). Já havia se difundido a convicção de que esse rito literalmente purificava os pecados da pessoa batizada. A santa ceia ou eucaristia havia se tornado a principal celebração cristã, sendo entendida como um sacrifício. Portanto, os seus oficiantes eram vistos como sacerdotes distintos dos demais cristãos, os leigos. A organização da igreja havia se tornado fortemente hierárquica, sob a firme liderança dos bispos. No final desse período, os cristãos também começaram a construir os seus primeiros templos. Em Roma, os cristãos reuniam-se nas catacumbas, locais onde também sepultavam os seus mortos.
No final do período que estamos estudando (início do quarto século), o cristianismo já estava firmemente implantado em várias regiões do norte da África, inclusive o Egito, bem como na Síria, Armênia, Mesopotâmia, toda a Ásia Menor, a península grega, Itália, sul da Gália e sul da Espanha. Também já havia cristãos ao sul dos rios Reno e Danúbio e até mesmo na longínqua Britânia. Em outras palavras, a fé cristã já havia alcançado quase todas as regiões do vasto Império Romano e no oriente ultrapassava as suas fronteiras. Não houve missionários famosos nesse período: a fé era difundida pelos cristãos comuns em seus contatos com outras pessoas e povos. A igreja era composta de indivíduos de todas as classes sociais, desde escravos até nobres.
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
Esse foi um período heróico da igreja antiga, em que os cristãos procuravam viver a vida cristã e testemunhar acerca da sua fé em meio a circunstâncias frequentemente adversas. Sua coragem e coerência no meio das perseguições e perplexidades do seu tempo nos inspiram e motivam a “viver de modo digno do evangelho” e a “lutar juntos pela fé do evangelho” (Fp 1.27), no tempo presente. O esforço tanto dos grandes intelectuais cristãos quanto dos crentes comuns dos primeiros séculos, no sentido de comunicar as suas convicções aos seus contemporâneos e dar uma contribuição construtiva à sua sociedade, nos desperta para as grandes oportunidades e responsabilidades que temos em nossa geração.