Devido à grande quantidade de informações sobre este importante e longo período, ele será dividido em duas partes: O Apogeu da Idade Média e A Época do Renascimento.
1. O APOGEU DA IDADE MÉDIA (1073-1294)
1.1 O auge do papado
Hildebrando, já mencionado no final da parte anterior, tornou-se papa com o título de Gregório VII (1073-1085) e adotou como lema do seu pontificado as palavras de Jeremias 48.10a: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!”. Ele foi um papa reformador que lutou contra a corrupção dos clérigos, as investiduras leigas e a simonia (ver unidade anterior). Como o imperador alemão Henrique IV (1056-1106) insistisse em nomear os bispos no seu território, Hildebrando o excomungou. Enfraquecido politicamente, Henrique foi encontrar-se com o papa no castelo de Canossa, nos Alpes, em que este achava-se hospedado (ano 1077). Depois de bater à porta por três dias, vestido como um penitente e caminhando descalço na neve, Henrique foi perdoado e teve anulada a sua excomunhão. Novamente fortalecido, o imperador enviou um exército a Roma e aprisionou o papa. A controvérsia das investiduras só foi resolvida na Concordata de Worms (1122), entre o papa Calisto II e o imperador Henrique V.
Outro papa que lutou contra a simonia foi Alexandre III (1159-1181). O rei Henrique II da Inglaterra não queria abrir mão da prerrogativa de nomear os bispos. Isso fez com que o seu opositor, Thomas Becket, arcebispo de Cantuária, fosse assassinado (1170). O papa obrigou o rei a fazer uma penitência pública por esse crime. Todavia, o maior dos papas medievais foi Inocêncio III (1198-1216), o primeiro a usar o título “Vigário de Cristo”. Ele nutriu a visão de uma sociedade cristã unificada sob a liderança do papa, ou seja, o conceito de “cristandade”. Inocêncio reorganizou a igreja por meio do 4° Concílio Lateranense (1215) e enfrentou com êxito o rei francês Filipe Augusto e o rei inglês João Sem Terra, que se viu forçado a aceitar uma constituição, a Magna Carta. Esses episódios ilustram como era tumultuada e nociva a relação entre a igreja e o estado.
1.2 As Cruzadas
As cruzadas foram guerras promovidas pela cristandade ocidental contra o islã, de 1095 a 1291. Tiveram diversas causas – religiosas, políticas e econômicas –, mas o objetivo declarado foi libertar os lugares santos da Palestina, o berço do cristianismo, das mãos dos muçulmanos. A primeira cruzada foi pregada pelo papa Urbano II em Clermont, na França, em 1095, sob o lema Deus vult! (“Deus o quer”). Depois de muita violência, os cruzados estabeleceram um reino cristão em Jerusalém (1099-1187). A “cruzada das crianças” (1212) envolveu milhares de adolescentes, a maior parte dos quais morreram ou foram vendidos como escravos. Os cruzados mais famosos foram os reis Frederico Barba Roxa (1152-1190), Ricardo Coração de Leão (1189-1199) e Luís IX (São Luís, 1226-1270). Esse período viu o surgimento de ordens militares como os hospitalários, os templários e a ordem teutônica. Na mesma época, teve continuidade a reconquista da Península Ibérica e ocorreu o surgimento de Portugal como nação independente (1147-1249). As cruzadas produziram muitos efeitos negativos, entre os quais uma duradoura antipatia entre os dois grupos envolvidos, o que muito dificultou as missões dos cristãos aos muçulmanos.
1.3 O escolasticismo
O escolasticismo foi um movimento intelectual e teológico que resultou da introdução da filosofia de Aristóteles na Europa por meio dos árabes e judeus da Espanha. Essa filosofia, com sua visão ordenada e sistemática do mundo, afetou todas as áreas do pensamento, contribuindo para o chamado renascimento do século 12 (1050-1250). A filosofia e a lógica aristotélicas também afetaram fortemente a teologia cristã. Os primeiros teólogos escolásticos foram quatro. Anselmo (1033-1109), arcebispo de Cantuária, é chamado o “pai do escolasticismo”; sua obra principal, Cur Deus Homo?, é um tratado sobre a encarnação. Pedro Abelardo (1079-1142), brilhante professor da Universidade de Paris, escreveu a obra Sic et Non. Bernardo de Claraval (1090-1153), influente líder, pregador e místico, é tido como o pai do misticismo medieval. Pedro Lombardo (1100?-1160?) é chamado “o mestre das sentenças” por causa de sua famosa obra Quatro Livros de Sentenças, texto padrão de teologia por vários séculos no qual ele defendeu os sete sacramentos. O século 12 também marcou o surgimento das primeiras universidades, tais como as de Paris, Montpellier, Cambridge, Oxford, Bolonha, Modena e Régio. Nelas estudava-se filosofia, direito, medicina e teologia, esta última a “rainha das ciências”. Outra contribuição do período foi a esplêndida arquitetura gótica das catedrais.
1.4 Movimentos dissidentes
Outro aspecto desse período de efervescência foi o surgimento de alguns movimentos dissidentes no sul da França que despertaram forte oposição da Igreja Romana. Um deles foi o dos cátaros (em grego = “puros”) ou albigenses (da cidade de Albi), surgidos no século 11. Caracterizavam-se por um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, um dualismo radical (espiritual x material) e extremo ascetismo. Foram condenados pelo 4° Concílio Lateranense em 1215 e mais tarde aniquilados por uma cruzada. Para combater esses e outros hereges, a Inquisição foi oficializada em 1233.
Outro movimento foi liderado por Pedro Valdo ou Valdes (†c.1205), de Lião, na França, cujos seguidores ficaram conhecidos como “homens pobres de Lião”. Eles tinham um estilo de vida comunitário, ensinavam as Escrituras no vernáculo (enfatizando o Sermão do Monte), incentivavam a pregação de leigos e de mulheres, negavam o purgatório. Condenados pelo Concílio de Verona em 1184, foram muito perseguidos, refugiando-se em vales remotos e quase inacessíveis dos alpes italianos. Mais tarde, os valdenses abraçaram a Reforma Protestante, sendo assim uma das poucas igrejas protestantes anteriores à Reforma do Século 16.
1.5 Ordens religiosas
A segunda metade da Idade Média também viu o surgimento de novas ordens religiosas como os cistercienses (de Citeaux, na França), em 1098. Dentro de um século, os chamados “monges brancos” iriam criar 530 mosteiros. Todavia, duas outras ordens surgidas no século 13 se tornariam muito mais conhecidas. Trata-se das “ordens mendicantes” (frades), com sua ênfase na educação como instrumento de conversão do mundo. A primeira foi a dos franciscanos, fundada pelo italiano Francisco de Assis (c.1181-1226) e aprovada oficialmente em 1210. Os “frades menores” tinham inicialmente um ideal de renúncia e pobreza (Mt 19.21) e visavam a conversão dos muçulmanos. Dedicavam-se à caridade, à pregação e ao estudo. A outra ordem foi a dos dominicanos, organizada pelo espanhol Domingos de Guzman (c.1170-1221) e aprovada em 1216. Esses frades pregadores tinham como alvo inicial converter os albigenses e outros grupos. Posteriormente, sua forte ênfase inicial na pregação e no estudo foi substituída pela preocupação com a ortodoxia e isso os levou a se envolverem com a Inquisição.
1.6 O apogeu do escolasticismo
Os grandes teólogos escolásticos foram os dominicanos Alberto Magno (c.1200-1280), Tomás de Aquino (c.1225-1274) e Meister Eckhart (c.1260-1327), e os franciscanos Boaventura (c.1217-1274), Duns Scotus (c.1265-1308) e Guilherme de Ockham (c.1285-1349). O maior de todos sem dúvida foi Tomás de Aquino, procedente de uma família nobre italiana. Aquino foi o maior teólogo medieval e os seus ensinos (o tomismo) são a doutrina oficial da Igreja Romana. Escreveu a famosa Suma Teológica, na qual deu ênfase aos conceitos duplos de fé e razão, graça e natureza, bem como aos sacramentos. Foi canonizado em 1323 e declarado “doutor da igreja” em 1567.
1.7 Vida e culto
A sociedade medieval possuía uma estrutura hierárquica e rígida composta de três grupos principais: os que trabalham (servos), os que oram (religiosos) e os que guerreiam (nobres). Imperava o sistema feudal de senhores e vassalos. Ao mesmo tempo, estava surgindo uma economia baseada no lucro, o que conflitava com o antigo ideal de pobreza. A religiosidade popular dava grande ênfase aos sacramentos, especialmente da eucaristia e da penitência (e as indulgências), bem como às esmolas, jejum e orações. Muitos buscavam um contato mais pessoal com Deus pela união da alma com ele (místicos) ou o cultivo da vida devocional interior. Havia muita ansiedade por uma espiritualidade mais profunda, o que nem sempre podia ser suprido pela igreja, envolvida que estava com tantos interesses seculares e mundanos.
2. A ÉPOCA DO RENASCIMENTO (1294-1517)
2.1 Os estados nacionais
A igreja não vivia em um vácuo, mas sim em um contexto político e social mais amplo com o qual mantinha múltiplas interações. No final da Idade Média, houve o surgimento dos chamados “estados nacionais”, as modernas nações europeias, o que representou uma grande ameaça às pretensões do papado. Na Alemanha (Sacro Império Romano), Rudolf von Hapsburg foi eleito imperador em 1273. Em 1356, um documento conhecido como Bula de Ouro determinou que cada novo imperador seria escolhido por sete eleitores (quatro nobres e três arcebispos). Havia descentralização política, isto é, o poder dos príncipes limitava a autoridade do imperador, bem como forte tensão entre a igreja e o estado.
Na França, houve o fortalecimento da monarquia com Filipe IV, o Belo (1285-1314). Esse rei enfrentou com êxito o poder da igreja e dos papas e preparou a França para tornar-se o primeiro estado nacional moderno. Na Inglaterra, o parlamento reuniu-se pela primeira vez em 1295. Esse país teve um grande rei na pessoa de Eduardo I (†1307), que subjugou os nobres e enfrentou com êxito o papa na questão de impostos.
2.2 O declínio do papado
Este período começa com o pontificado de Bonifácio VIII (1294-1303), um papa ambicioso que entrou em confronto direto com o rei Filipe IV acerca de impostos e da autoridade papal. Bonifácio publicou três famosas bulas: Clericis Laicos, na qual reclama que os leigos sempre foram hostis ao clero; Ausculta Fili (“Escuta, filho”), dirigida ao rei francês,e Unam Sanctam (1302), denominada “o canto do cisne do papado medieval”. Irritado com as ações papais, Filipe enviou suas tropas, o papa foi preso e faleceu um mês após ser libertado.
Seguiu-se um período de crescente desmoralização do papado. Clemente V (1305-1314), um papa francês, transferiu a Cúria, ou seja, a administração da igreja, para Avinhão, ao sul da França, no que ficou conhecido como o “Cativeiro Babilônico da Igreja” (1309-1377). Em toda parte cresceram as críticas às extravagâncias e ao luxo da corte papal. João XXII (1316-1334) mostrou-se eficiente na cobrança de taxas e dízimos para cobrir essas despesas. Finalmente, ocorreu o chamado “Grande Cisma”, com a existência simultânea de dois e posteriormente três papas rivais, em Roma, Avinhão e Pisa (1378-1417). Diante dessa situação constrangedora, surgiu na Europa um clamor por “reformas na cabeça e nos membros”.
2.3 O Movimento Conciliar
Durante o “Grande Cisma”, cada papa considerou-se o único legítimo e excomungou o rival. Assim, houve a necessidade de um concílio para resolver a crise. O Concílio de Pisa (1409) elegeu um novo papa, mas os outros dois recusaram-se a ser depostos, resultando em três papas ao mesmo tempo. João XXIII, o segundo papa pisano, convocou o Concílio de Constança (1414-1417), que depôs os três papas, elegeu Martinho V como único papa, decretou a supremacia dos concílios sobre o papa e condenou os pré-reformadores João Wyclif, João Hus e Jerônimo de Praga. O Concílio de Basileia (1431-1449) reafirmou a superioridade dos concílios. Finalmente, o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) tentou a união com a Igreja Ortodoxa (frustrada pela conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453) e reafirmou a supremacia papal. Essa tentativa fracassada de tornar a igreja mais democrática e governá-la por meio de concílios ficou conhecida como conciliarismo.
2.4 O Renascimento
No final da Idade Média houve um extraordinário movimento intelectual e artístico que é conhecido como Renascimento ou Renascença (c.1350-1550). Duas características desse movimento foram a forte valorização do ser humano (humanismo) e a fascinação com as obras artísticas e literárias da antiguidade greco-romana. O renascimento começou na Itália (Roma, Florença) com Petrarca e Bocácio, no século 14. Seus artistas mais conhecidos foram Leonardo da Vinci (1452-1519), autor da fachada da basílica de São Pedro e do quadro “Última Ceia”; Rafael Sanzio (1483-1520) autor de madonas; e Michelangelo Buonarroti (1475-1564), que pintou a belíssima Capela Sistina e esculpiu as famosas estátuas de Moisés, Davi e da Pietá.
O interesse pelas obras da antiguidade levou ao estudo da Bíblia nas línguas originais pelos chamados humanistas bíblicos. Os principais deles foram o italiano Lorenzo Valla (†1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (†1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (†1522), notável hebraísta; o francês Lefèvre D’Étaples (†1536), tradutor do Novo Testamento; e o holandês Erasmo de Roterdã (1466?-1536), “o príncipe dos humanistas”. Este publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina (Novum Instrumentum), talvez a obra mais importante publicada no século 16, que serviu de base para as traduções de Lutero, Tyndale e Lefèvre e muito influenciou os reformadores protestantes. Esse retorno às Escrituras contribuiu grandemente para a Reforma do Século 16.
2.5 Primeiros Movimentos de Reforma
Nos séculos 14 e 15 surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos e práticas da igreja medieval. Um deles foi encabeçado por John Wyclif (1325?-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wyclif atacou as irregularidades do clero, as chamadas superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a transubstanciação, o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como lolardos, tinham a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar.
Jan Hus (c.1372-1415), um sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos escritos de Wyclif. Ele definiu a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistiu na autoridade suprema das Escrituras. Apesar de ser portador de um salvo-conduto imperial, Hus foi julgado e condenado à fogueira pelo Concílio de Constança. Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos Boêmios (1457) e foram muito perseguidos. Foram os precursores dos Irmãos Morávios, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16. Outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na igreja, inclusive no papado. Ele governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.
2.6 Movimentos devocionais
Além dos movimentos que romperam com a igreja, houve outros que permaneceram nela por se concentrarem na vida devocional, sem críticas aos dogmas católicos. Um deles foi o misticismo, bastante forte na Inglaterra, na Holanda e especialmente na Alemanha (vale do Reno). Os principais místicos dessa época foram Meister Eckhart (†1327), Tauler (†1361) e os chamados “Amigos de Deus”, Henrique Suso (†1366) e mais tarde o célebre teólogo e líder eclesiástico Nicolau de Cusa (1401-1464). O misticismo dava ênfase à união com Deus, ao amor, à humildade e à caridade, e produziu belíssima literatura devocional.
Outro importante movimento foi a Devoção Moderna, que se manteve forte durante todo o século 15. Suas ênfases recaíam sobre a espiritualidade, a leitura da Bíblia, a meditação e a oração. Também valorizava a educação, criando excelentes escolas. Foi um movimento leigo, para ambos os sexos, e também exerceu grande influência sobre os reformadores protestantes. Os participantes eram conhecidos como Irmãos da Vida Comum. A obra mais importante e popular produzida por esse movimento foi o belíssimo livreto devocional A Imitação de Cristo (1418), escrito por Thomas à Kempis.
2.7 Situação geral
O final da Idade Média for marcado por muitas convulsões políticas, sociais e religiosas. Entre as políticas destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a Inglaterra e a França, na qual tornou-se famosa a heroína Joana D’Arc. Houve também muitas revoltas camponesas, o declínio do feudalismo, a expansão das cidades e o surgimento do capitalismo. No aspecto social havia fomes periódicas e o terrível flagelo da peste bubônica ou peste negra (1348). As guerras, epidemias e outros males produziam morte, devastação e desordem, ou seja, a ruptura da vida social e pessoal. O sentimento dominante era de insegurança, ansiedade, melancolia e pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se viam por toda parte mostrando um esqueleto dançante.
Na área religiosa, houve a erosão do ideal da cristandade ou “corpus christianum”, a sociedade coesa sob a liderança da igreja e dos papas. A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja por causa dos abusos praticados e do desvio de propósitos. Isso é ilustrado pela situação do papado no final do século 15 e início do século 16. Os chamados papas do Renascimento foram mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A instituição papal continuou em declínio, com muitas lutas políticas, simonia, nepotismo, falta de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como papa Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e da carreira dos seus filhos César e Lucrécia; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521), o papa contemporâneo de Lutero, teria dito ao ser eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.
IMPLICAÇÕES PRÁTICAS
Quando se olha para a Idade Média, existe a tendência de considerá-la um período pouco edificante para os herdeiros da Reforma. Observa-se uma igreja marcada por doutrinas e práticas estranhas, em virtude do seu afastamento das Escrituras e do excessivo apego a tradições, bem como contaminada por uma relação viciada como o estado e excessivamente envolvida com interesses não-espirituais. Todavia, seria um erro achar que a igreja medieval nada tem a ver conosco. Se desprezamos esse período, cortamos a nossa ligação com a história da igreja e temos de admitir que por cerca de um milênio não houve um corpo de Cristo na terra. Por trás da instituição eclesiástica e de suas estruturas nem sempre saudáveis, havia manifestações de um cristianismo bíblico, de uma piedade autêntica, de amoroso serviço a Cristo e ao próximo, de missões transculturais bem-sucedidas. Em tudo isto, a história da igreja é fonte valiosa de ensinamentos e advertências para os cristãos.