IPB: História e Identidade
Curadoria dos Museus da IPB

Presbitérios da Igreja do Sul (PCUS) no Brasil

O primeiro concílio presbiteriano do Brasil – o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) – estava filiado ao Sínodo de Baltimore, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA), mais conhecida como Igreja do Norte. Posteriormente a Igreja do Sul – PCUS – cuja Comissão de Missões Estrangeiras estava sediada na cidade de Nashville, Tennessee, também criou presbitérios em terras brasileiras. Todos esses presbitérios viriam a se unir em 1888 no Sínodo do Brasil.

Presbitério de São Paulo

Esse concílio pioneiro teve uma existência efêmera e não deve ser confundido com outro de nome idêntico que surgiu 16 anos mais tarde. Foi organizado no dia 13 de janeiro de 1872, em Campinas, por seis norte-americanos, os Revs. George Nash Morton, Edward Lane, William Curdy Emerson e James Robinson Baird, e os presbíteros William P. McFadden e James McFadden Gaston. Os dois primeiros, Morton e Lane, foram os missionários pioneiros da Igreja do Sul no Brasil, tendo chegado a Campinas em 1869. Os outros dois, Emerson e Baird, trabalharam entre seus patrícios, os imigrantes norte-americanos de Santa Bárbara, atual Santa Bárbara D’Oeste. O novo presbitério, que ficou filiado ao Sínodo da Virgínia, inicialmente tinha apenas duas pequenas igrejas, a Igreja Hopewell, de Santa Bárbara, organizada em 26 de junho de 1870, e a Igreja de Campinas, organizada duas semanas depois, em 10 de julho. A primeira mesa ficou assim constituída: moderador – Rev. George N. Morton; secretário temporário – Dr. James M. Gaston; secretário permanente – Rev. Edward Lane. Mais tarde foi admitida a Igreja de Penha (Itapira), organizada em 10 de janeiro de 1874. Outros pastores arrolados por esse presbitério foram os Revs. William LeConte (1873) e John Boyle (1877).

William P. McFadden era presbítero da Igreja Hopewell (Santa Bárbara) e por muitos anos foi o secretário da Sessão ou Conselho de sua igreja. O médico James McFadden Gaston (1824-1903) era presbítero da Igreja de Campinas. O Dr. Gaston nasceu na Carolina do Sul. Durante a Guerra Civil americana, sua casa foi queimada. Veio para o Brasil em 1865 e assistiu à ordenação do Rev. José Manoel da Conceição. Escreveu o livro Hunting a Home in Brazil (“À procura de um lar no Brasil”) e liderou a vinda de mais de 60 famílias americanas para o interior de São Paulo. Com o filho do mesmo nome, também médico, abriu um pequeno hospital em Campinas. Seus filhos estudaram no Colégio Internacional. Duas de suas filhas, Nannie Gaston e Keziah Brevard Gaston, casaram-se respectivamente com os Revs. Alexander L. Blackford (este em segundas núpcias) e John Benjamin Kolb, missionários da Igreja do Norte. Na época da formação do Presbitério de São Paulo, o Dr. Gaston residia em Capela Nova de Patrocínio (Araras). Mais tarde voltou para o seu país, vindo a se tornar o principal cirurgião e professor de medicina do Sul dos Estados Unidos.

As três reuniões do presbitério após a organização foram realizadas em Santa Bárbara, às vezes debaixo de uma árvore perto da casa do presbítero McFadden. Na reunião de 13 de junho de 1872, foi redigida uma carta pastoral a ser impressa em português e inglês e pediu-se à população americana apoio para o colégio que estava sendo iniciado em Campinas. Na reunião de 17 de junho de 1873, foram discutidas questões referentes ao colégio e ao livro de disciplina. Recebeu-se o Rev. LeConte e foi registrada a presença de missionários visitantes: Emanuel Vanorden, George W. Chamberlain e os pastores Lee e Radcliff, respectivamente metodista e batista. Na reunião de junho de 1874, foi arrolada a Igreja de Penha (Itapira). A reunião de 1875, realizada em Campinas, teve a presença do Rev. Boyle, recém-chegado do Nordeste. O Sr. Garcia, presbítero eleito de Penha, mas ainda não ordenado, deu informações interessantes sobre sua igreja. Foi discutida a seguinte questão: os missionários em solo estrangeiro devem organizar-se em presbitério ou devem simplesmente trabalhar como evangelistas? Foram enviadas saudações ao Presbitério do Rio de Janeiro, propondo-se contatos sobre assuntos de interesse comum. Resolveu-se fazer as reuniões do concílio em língua portuguesa.

Os registros de 1876 não foram transcritos no livro de atas. Na reunião de 1877, o Rev. Boyle foi arrolado. Discutiu-se a proposta de dissolução do presbitério feita pela Assembléia Geral da PCUS no ano anterior. O concílio discordou, julgando que havia circunstâncias que justificavam sua continuação, conforme carta anexa que iria enviar. Pediu respeitosamente à Assembléia Geral que endereçasse a questão ao Sínodo da Virgínia, ao qual competia a questão. Preparou-se uma pastoral sobre a guarda do domingo e marcou-se a reunião de 1878 para a Igreja de Santa Bárbara. Todavia, prevaleceu a tese da Assembléia Geral de que os missionários não deviam organizar-se em presbitério, e o concílio foi extinto. A última ata teve a data de 28 de julho de 1877.

Presbitério de Campinas e Oeste de Minas

O Presbitério de São Paulo renasceu dez anos mais tarde. Após uma reunião informal em Mogi-Mirim, em que os obreiros de Nashville tomaram providências iniciais, o novo concílio foi oficialmente organizado em Campinas no dia 14 de abril de 1887, com o nome de Presbitério de Campinas e Oeste de Minas. Foram seus primeiros membros os Revs. Edward Lane (moderador), John Boyle, John Watkins Dabney, George Wood Thompson e Delfino dos Anjos Teixeira, o único pastor brasileiro. As igrejas eram cinco: Santa Bárbara, Campinas, Itapira, Mogi-Mirim e Itatiba. Os presbíteros fundadores foram J. W. Miller, de Santa Bárbara; Flamínio Augusto Rodrigues, de Campinas; Conrado Wiesmann, de Itapira; Lourenço Moreira de Almeida, de Mogi-Mirim; José Pinto de Oliveira, de Itatiba; e Cândido José Pedroso, de Água Branca (perto de Tatuí).

Flamínio Rodrigues, natural de Limeira, estudou no Colégio Internacional e em seguida no Colégio Hampden-Sidney, na Virgínia. Por vários anos foi professor e diretor do Colégio Internacional. Estudou teologia com o Rev. Edward Lane e foi ordenado pastor em 1893. Outro antigo presbítero de Campinas que alcançou o ministério foi Álvaro Emídio Gonçalves dos Reis, também aluno de teologia do Rev. Lane. Foi licenciado em setembro de 1888 e ordenado um ano mais tarde. Em 1897, iniciou seu longo e brilhante pastorado na Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. Era sobrinho do colportor e presbítero Lourenço Moreira de Almeida, de Mogi-Mirim, companheiro de viagens do Rev. Boyle.

Na organização do Presbitério de Campinas e Oeste de Minas, os missionários apresentaram suas cartas de transferência, então chamadas “demissórias”: Edward Lane, do Presbitério de West Hanover; John Boyle e Delfino Teixeira, do Presbitério de Transilvânia; George Thompson, do Presbitério de East Hanover. John Dabney, também deste último presbitério, não tinha ainda sua demissória, sendo recebido só no ano seguinte. Os Revs. Boyle e Thompson foram nomeados para consultar a Assembléia Geral da Igreja do Sul se o presbitério recém-formado deveria filiar-se a um sínodo norte-americano ou aceitar a proposta do Presbitério do Rio de Janeiro para formar um sínodo no Brasil. Decidiu-se pela segunda opção.

Quando o Sínodo foi criado, em setembro de 1888, o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas deixou de existir. Portanto, teve uma existência ainda mais efêmera que a de seu antecessor – apenas um ano e cinco meses. Ele foi subdividido em outros dois: Presbitério de São Paulo (instalado em 14 de setembro) e Presbitério de Minas (instalado em 6 de dezembro). A jurisdição do primeiro seria o território desde o rio Tietê até o sul do Brasil, bem como o vale do Paraíba até a cidade de Cruzeiro e a Igreja de Campanha, em Minas Gerais. A jurisdição do Presbitério de Minas iria do rio Tietê até Minas, exceto Campanha. Curiosamente, a maior parte das igrejas desse presbitério ficava no Estado de São Paulo. Portanto, no centro e no sul do Brasil passaram a existir três presbitérios: os dois que acabam de ser mencionados e o antigo Presbitério do Rio de Janeiro, cujo território ia até o rio São Francisco, incluindo a Bahia e Sergipe. Só em 1900 seriam criados outros concílios nessa vasta região – Presbitério Oeste de São Paulo, Presbitério do Sul e Presbitério do Norte (este demorou a ser instalado). Em 1907 surgiu o Presbitério da Bahia e Sergipe e em 1910 o Presbitério Sul de Minas.

Presbitério de Pernambuco

Os missionários da Igreja do Sul que trabalhavam no Nordeste fundaram em 17 de agosto de 1888, na cidade do Recife, o Presbitério de Pernambuco, cuja jurisdição seria o território desde o rio São Francisco até a Amazônia. Foram membros fundadores os seguintes obreiros: Revs. John Rockwell Smith, DeLacey Wardlaw, George William Butler, João Batista de Lima, José Francisco Primênio da Silva, Belmiro de Araújo César e o presbítero William Calvin Porter. Os três brasileiros faziam parte da primeira turma de teologia do Rev. Smith. A primeira mesa ficou assim constituída: moderador – John Rockwell Smith, secretário temporário – William Calvin Porter; secretário permanente – José Primênio da Silva.

A segunda reunião do presbitério teve início no dia 13 de setembro de 1889 na capital da Paraíba. No dia 26 foram ordenados William C. Porter e Juventino Marinho da Silva, da segunda turma do Rev. Smith. Porter tinha vindo dos Estados Unidos ainda criança com a família e falava fluentemente o português. A terceira reunião foi realizada em Goiana (PE) em 21 de agosto de 1890 e a quarta em Recife, no dia 15 de agosto de 1891. Nesta última, foi arrolado o Rev. William M. Thompson, que haveria de prestar serviços muitíssimo valiosos à obra presbiteriana no Nordeste e na Amazônia, e o Rev. James Dick, que faleceu no ano seguinte, em Fortaleza, durante uma epidemia de varíola.

A quinta reunião do Presbitério de Pernambuco ocorreu em Fortaleza em 5 de outubro de 1892, sendo eleito moderador o Rev. Calvin Porter. Esteve presente o Rev. H. M. Houston, secretário da Comissão Executiva de Missões Estrangeiras da Igreja do Sul. Foi recebido o candidato Martinho de Oliveira, futuro fundador do Seminário do Norte. À exceção dos Revs. Smith e Butler, todos os ministros compareceram, bem como os presbíteros Prof. Lucas Martins (Fortaleza), João Mendes (Recife), Joaquim J. Coelho (Paraíba), José Maria de Lima (Maranhão) e Misael Borges (Maceió). Na noite do domingo dia 6 foi instalado solenemente como pastor da igreja hospedeira o Rev. DeLacey Wardlaw, ali estabelecido desde 1882. Na reunião de 1896, realizada na capital da Paraíba, foi eleito moderador o Tenente Minervino Ribeiro Pessoa Lins (1841-1931), convertido em 1877, membro fundador e primeiro presbítero da Igreja de João Pessoa. Ele foi o primeiro presbítero a presidir um concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil.

As igrejas que constituíram o Presbitério de Pernambuco até 1904 foram as seguintes, pela ordem de organização: Recife, Goiana (PE), Fortaleza, João Pessoa, Mossoró (RN), São Luís, Pão de Açúcar (AL), Maceió, Monte Alegre (PB), Areias (Recife), Caxias (MA), Natal, Canhotinho (PE), Garanhuns (PE), Gileá (PE), Palmares (PE), Belém e Manaus. Os primeiros missionários filiados ao presbitério foram, por ordem de chegada ao Brasil: John Rockwell Smith, DeLacey Wardlaw, George W. Butler, William M. Thompson, James Dick, George E. Henderlite, Carlyle R. Womeldorf, Reginald Price Baird e Henry John McCall. Com o “Modus Operandi” (1917), um acordo entre a IPB e as missões norte-americanas, os missionários deixaram de fazer parte dos presbitérios nacionais.

Quanto aos primeiros pastores brasileiros do Presbitério de Pernambuco, foram os seguintes: Belmiro de Araújo César, João Batista de Lima, José Francisco Primênio da Silva, William Calvin Porter, Juventino Marinho da Silva, Martinho de Oliveira, Manoel Alfredo Guimarães e Manoel Francisco do Nascimento Machado. Nas duas primeiras décadas do século 20 foram ordenados Jerônimo Gueiros, Lourenço de Barros, Cícero Barbosa, Benjamim Marinho, Antônio Almeida, João Marques da Mota Sobrinho, Antônio de Carvalho Silva Gueiros, Raimundo Bezerra Lima, Perciano Alves, José Martins de Almeida Leitão, Natanael Cortez, Otávio Valois Costa, José Acelino de Carvalho, João Francisco da Cunha Júnior, Cícero Siqueira, Antônio Teixeira Gueiros, Antônio Montenegro, Sebastião Gomes do Nascimento, João Gadelha e Samuel César, entre outros. Em 1900, o Sínodo Presbiteriano criou o Presbitério do Norte, abrangendo a região que ia da Paraíba ao Maranhão. Todavia, só bem mais tarde (1920) o novo concílio foi desligado do Presbitério de Pernambuco, que deveria estender-se desse estado até a Bahia. O Presbitério do Norte posteriormente veio a se chamar Presbitério Ceará-Amazônia. Como já foi visto, em 1907 surgiu o Presbitério Bahia-Sergipe. Em 1927 foi criado o Presbitério Sul de Pernambuco, com sede em Garanhuns. Todos esses concílios ficaram filiados ao Sínodo Setentrional, instalado em 1909. Nos limites do antigo Presbitério de Pernambuco, além de muitas igrejas, estavam localizadas importantes instituições educacionais: Colégio Americano de Natal, Colégio 15 de Novembro (Garanhuns) e Colégio Americano de Pernambuco (Agnes Erskine). O Seminário do Norte, iniciado em Garanhuns em 1899, transferiu-se para Recife em 1921. Dos três presbitérios pioneiros da Igreja do Sul (PCUS) no Brasil, o de Pernambuco é o único que continua em existência até hoje, tendo recentemente completado 135 anos.

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