A obra presbiteriana no Norte-Nordeste do Brasil teve início nos anos de 1872 e 1873, com a chegada dos Revs. Francis Schneider e John Rockwell Smith respectivamente a Salvador e Recife. Alguns anos depois, o Rev. Smith passou a dedicar-se à educação teológica dos primeiros candidatos ao ministério. Em 1887, foram ordenados Belmiro de Araújo César, José Francisco Primênio da Silva e João Batista de Lima; em 1889, Juventino Marinho da Silva e William Calvin Porter. Em 1892, o Rev. Smith transferiu-se para o Sul do país a fim de ser o primeiro professor do Seminário Presbiteriano, estabelecido inicialmente em Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro. No ano seguinte, 1893, chegou ao Nordeste outro missionário que também deu grandes contribuições ao treinamento de pastores para a região – George Edward Henderlite. Na Paraíba, ele deu início à preparação dos Revs. Martinho de Oliveira, Manoel Alfredo Guimarães e Manoel Francisco do Nascimento Machado, todos os quais foram ordenados nos últimos anos do século 19.
Com o passar do tempo, a ampliação do trabalho evangelístico na vasta região e o aumento do número de candidatos ao ministério fizeram sentir a necessidade de se oferecer um treinamento teológico e pastoral em bases mais formais, atendendo ao mesmo tempo as peculiaridades regionais. A oportunidade para tal surgiu na cidade de Garanhuns, que ficaria conhecida como “a Antioquia pernambucana”. O idealizador desse projeto foi outro notável missionário que trabalhou no Norte-Nordeste, Rev. Dr. George William Butler.
Primórdios em Garanhuns
O trabalho evangélico em Garanhuns teve início em 1894, quando o Rev. Henry John McCall, então a serviço de uma missão congregacional, fez as primeiras pregações na cidade. No ano seguinte, incentivado por ele, fixou-se nessa localidade o Rev. George Butler, o fundador da Igreja Presbiteriana de Garanhuns. Butler concebeu o plano de se criar uma escola teológica para o preparo de elementos da região, entre os quais estavam alguns moços da família Gueiros. Todavia, impossibilitado de realizar esse trabalho em virtude de suas inúmeras atividades como evangelista e médico, convidou um jovem e promissor ministro nacional, Martinho de Oliveira, para dar início ao empreendimento. Martinho tinha nascido no Recife em 1870. Foi ordenado em 1896 e desde então estava à frente da Igreja de Pão de Açúcar, em Alagoas. Ele foi para Garanhuns em 1899, a fim de substituir Butler, que havia se transferido para a vizinha cidade de Canhotinho.
No mesmo ano, Martinho de Oliveira iniciou a modesta escola teológica, cujo primeiro aluno foi Jerônimo Gueiros, então com 19 anos. Também lançou as bases do futuro Colégio 15 de Novembro, que seria estabelecido formalmente em 1908. O consagrado obreiro desdobrou-se no ensino das muitas disciplinas, ao mesmo tempo em que se desincumbia de suas muitas responsabilidades pastorais. Em 1901, foi auxiliá-lo no seminário em embrião o seu mestre, Rev. Henderlite. Na reunião ordinária de julho de 1903, o Presbitério de Pernambuco encampou a pequena instituição como um seminário presbiterial. Todavia, quando o Rev. Martinho retornava dessa reunião, veio a adoecer gravemente e faleceu no final do mesmo mês. Nos seus últimos momentos, pediu a Henderlite: “Não abandone a educação de nossos moços”. Num sermão proferido na Igreja de Garanhuns, o missionário proferiu as célebres palavras: “Morreu Martinho, mas não morreu o seminário”. Henderlite assumiu a direção da escola, prosseguindo nessa função até 1919. Teve como colaboradores o Prof. Soriano Furtado, Rev. Jerônimo Gueiros, Rev. William M. Thompson e D. Cecília Siqueira.
O Presbitério de Pernambuco esperava que o Sínodo do Norte, que se reuniu pela primeira vez em janeiro de 1909, apoiasse a frágil instituição teológica. Todavia, devido aos interesses divergentes do Sul, esse apoio não se concretizou. O mesmo ocorreu ao organizar-se a Assembleia Geral da IPB, no ano seguinte. Argumentou-se que era preferível concentrar os parcos recursos da igreja em um só seminário, aquele já existente em Campinas. Por sua vez, os representantes do Norte entendiam que as necessidades e peculiaridades da região justificavam a existência de outra escola de teologia. O seminário de Garanhuns viveu anos de grandes incertezas, mas contou com fortes defensores, principalmente o Rev. Jerônimo Gueiros. Além dele, outros formandos das duas primeiras décadas foram Lourenço de Barros, Benjamim Marinho de Oliveira, Alfredo Ferreira, Antônio Almeida, Antônio de Carvalho Silva Gueiros, João Marques da Mota Sobrinho, Raimundo Bezerra Lima, Natanael Cortez, Otávio Valois Costa, José Martins de Almeida Leitão, Cícero Siqueira, Antônio Teixeira Gueiros, Manoel Antônio dos Santos, Sebastião Gomes do Nascimento, Antônio da Costa Montenegro e João Gadelha Mororó.
Transferência para o Recife
Em 1919, a pedido do Presbitério de Pernambuco, o Rev. Henderlite transferiu o seminário para a capital do estado, onde havia maior disponibilidade de professores. Todavia, com a viagem desse missionário e de um novo professor, Antônio Almeida, para os Estados Unidos, a casa de profetas suspendeu suas atividades por dois anos. Retornando ao Brasil em meados de 1921, o Rev. Almeida reabriu o seminário. Ele havia sido aluno de Martinho de Oliveira e se casara com a viúva deste, D. Maria Barra de Oliveira. Após doutorar-se no Seminário Teológico Union, em Richmond, Virgínia, com especialização em hebraico, assumiu a liderança do seminário por quase trinta anos, até sua aposentadoria em 1948. Foi diretor durante 17 anos e deão por 9 anos, tendo durante algum tempo a colaboração do colega Jerônimo Gueiros. Mais tarde seu nome foi dado ao grêmio estudantil.
Visando o sustento do seminário, Almeida buscou parcerias com outras denominações e criou o Instituto Ebenézer, que teve curta duração. Convenceu o Rev. Henderlite a retornar ao Brasil e servir a instituição por mais alguns anos. Obteve a cooperação do Rev. James Haldane (congregacional) e de D. Eliza Reed. O número de alunos logo chegou a 22, vindos da IPB, da IPI e da Igreja Evangélica Pernambucana. Os três presbitérios do Norte passaram a apoiar o seminário e reivindicar o seu reconhecimento pela Assembleia Geral. Todavia, a crise financeira persistia, resultando num debate acalorado sobre a melhor localização para o seminário – Recife ou Garanhuns.
Em 1924, a Assembleia Geral da IPB, reunida em Recife, sendo moderador o ilustre Rev. Erasmo Braga, atendeu ao pedido do Presbitério de Pernambuco e oficializou o Seminário Evangélico do Norte como um trabalho cooperativo com outras igrejas. Deixou-o, porém, sob a direção do Sínodo Setentrional. O seminário passou a contar com o apoio mais explícito das missões norte-americanas (Missão Norte do Brasil e Missão Brasil Central). No mesmo ano, foi adquirida a aprazível chácara da rua Sá Pereira (atual Demócrito de Souza Filho), no bairro da Madalena. A cooperação intermitente dos congregacionais prosseguiu até 1942. Outros professores do período foram Harold C. Anderson, Edwin R. Arehart, H. Theodore Hinn, Israel Furtado Gueiros, Samuel Falcão, Elpídio Ribeiro e os congregacionais W. B. Forsyth e Sinésio Lyra.
Nesse período se formaram cerca de 60 alunos, entre os quais Sérgio Maranhão, Artur Souto, Alfeu Barra de Oliveira, Celso Lopes Pereira, Samuel de Vasconcelos Falcão, Ageu Vieira da Silva, Josibias Fialho Marinho, Sinésio Lyra, Benedito Guimarães Aguiar, José Bezerra Duarte, Alcides Nogueira, Basílio Catalá Castro, Otacílio Alcântara, Sebastião Gomes Moreira, Jerônimo Rocha, Joel Correia Rocha, Israel Gueiros, José Martins Ferreira, Tiago dos Anjos Lins, Josafá Siqueira, Ageu Lídio Pinto, Wilson de Souza, Natanael da Silveira Beutenmuller, Manoel Siqueira Bitu e Neemias Castelo Branco.
Seminário Presbiteriano do Norte
Em 1946, a Igreja Presbiteriana do Brasil assumiu definitivamente a administração da escola teológica, que passou a denominar-se Seminário Presbiteriano do Norte. Entre os novos professores estavam Oton Guanais Dourado, Alexander Reese, Ismael Andrade e Heinz Neumann. Reese doou sua valiosa coleção de livros ao seminário, cuja biblioteca passou a ter o nome desse missionário. Todavia, estava para iniciar-se o período mais crítico da história da instituição, que se estendeu por mais de duas décadas. Nos anos 50, as dificuldades giraram em torno do Rev. Israel Gueiros, filho do Rev. Antônio de Carvalho Silva Gueiros e sobrinho de Jerônimo Gueiros. Ele foi ordenado em 1931, formou-se em medicina e foi deão, professor e diretor do SPN.
Tendo se tornado um fervoroso partidário do movimento fundamentalista de Carl McIntire, Israel entrou em choque com professores do seminário (como Hershey Julien e Langdon Henderlite) que julgava modernistas e com aqueles que, no seu entender, eram tolerantes em relação a eles, como Samuel Falcão e Oton Dourado, novos diretor e deão da escola. Em 1950, Israel renunciou à docência no SPN e iniciou uma campanha contra os missionários estrangeiros e contra a congregação do seminário. Além disso, começou a dar os primeiros passos para criar outro seminário em Recife. Finalmente, em 1956, após um tenso processo disciplinar, ele foi exonerado do ministério da IPB e fundou a Igreja Presbiteriana Fundamentalista do Brasil, tendo como base a histórica Igreja Presbiteriana do Recife, da qual era pastor.
Nos anos 60, o Seminário do Norte reuniu a melhor equipe docente de sua história, do ponto de vista acadêmico: João Dias de Araújo, Áureo Bispo dos Santos, Celso Loula Dourado, Victor Pester, Thomas Foley e Paul Everett Pierson, entre outros. Todavia, esses professores abraçavam perspectivas teológicas, tais como a preocupação social e a abertura ecumênica, que os colocaram em conflito com a nova administração da igreja, fortemente conservadora, eleita em 1966. A atuação da Comissão Especial de Seminários levou ao progressivo afastamento desses docentes, em especial o culto Rev. João Dias de Araújo, que havia sido influenciado por M. Richard Shaull.
As décadas seguintes trouxeram dias mais serenos e produtivos para o SPN através da liderança do Rev. Frans Leonard Schalkwijk, um missionário holandês que começou a lecionar na instituição em 1973 e em seguida foi seu diretor por onze anos (1976-1986). Nesse período, o SPN alcançou a maior matrícula de sua história, recebendo estudantes de todo o Brasil. Dos quase 1.000 alunos que se formaram na instituição em mais de um século, cerca de 40% correspondem ao período de atuação do Rev. Schalkwijk. A maior turma de formandos foi a de 1986, com 52 alunos. Entre os professores da época estavam Oton Dourado, Heinz Neumann, Gerson da Rocha Gouveia, Henrique de Lima Guedes, Valmir Soares da Silva, William Wilson, Klaas Kuiper, Ingrid Neumann, Robinson Cavalcanti, Ismael Feijó e outros. Em anos recentes, o diretor que esteve por mais tempo à frente do SPN foi Edijéce Martins Ferreira (1991-1998). Ele foi sucedido pelos Revs. Abner Ferreira de Assis, Luiz Augusto Corrêa Bueno, Lutero Teixeira da Rocha, Eduardo Magalhães Lira Souto Maior, Marcos André Marques, Stéfano Alves dos Santos e José Roberto de Souza, o atual dirigente. Cento e vinte e cinco anos após seu modesto início, o Seminário Presbiteriano do Norte continua a cumprir a missão de formar pastores e líderes para o setentrião brasileiro. Apesar de persistentes entraves, principalmente de ordem financeira, a respeitável instituição tem prestado inestimáveis serviços às igrejas e ao reino de Deus, constituindo-se num valioso patrimônio da Igreja Presbiteriana do Brasil.